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YONLU | Thalles Cabral detalha processo de transformação para o filme

Quando estreou no Festival do Rio em 2017, "Yonlu" atraiu a atenção deste que vos fala, a ponto de colocá-lo na lista de melhores filmes daquele ano. Estreou com muitos elogios em São Paulo e no Rio Grande do Sul, onde arrebanhou algumas importantes premiações - como o Prêmio ABRACCINE de Melhor Filme Brasileiro de Diretor Estreante pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema na Mostra Internacional de Cinema em SP - e o olhar curioso de muitos que desejavam saber QUEM é o ator que personificou o jovem músico Yonlu nas telas do cinema (que estreia em circuito nacional em 30/08/2018), cujos nomes - tanto do ator quanto do personagem e do filme - eram colocados ao lado de um adjetivo sempre bem-vindo: "revelação".
Thalles Cabral no filme "Yonlu" (Divulgação)

Bem, a revelação tem nome: chama-se Thalles Cabral (foto). Nascido em 1994, natural de Porto Alegre (RS) mas cresceu em Curitiba (PR). Com uma relativamente curta carreira televisiva - esteve na novela "Amor à Vida" [TV Globo] ao lado de Mateus Solano -, teatral - está em cartaz e estreia outra peça com elenco estelar em breve -, musical - lançou recentemente 'Utopia', um disco com onze faixas - e cinematográfica - estará de volta ao cinema ao lado de ninguém menos que Paulo Miklos - , o jovem e multifacetado ator já está em "turnê" para promover este personagem tão importante.

Apesar da apertada agenda por conta da divulgação do filme "Yonlu" - dirigido por Hique Montanari, que entrevistamos AQUI -, Thalles Cabral respondeu a esta singela entrevista à equipe do site Poltrona POP. Confira:


Poltrona POP - Como se deu a construção dessa personagem para o filme, uma vez que é baseado numa pessoa real?
THALLES CABRAL - Primeiro, partimos do material que tínhamos do Vinicius [o nome real do artista Yonlu]. Eu tive acesso a alguns textos dele, poesias, algumas letras de músicas que não foram lançadas... Ele desenhava, fazia algumas tirinhas, e eu tive acesso a esse caderno, que era praticamente um diário que ele reunia esses trabalhos. Foi importante pra entender como pensava a mente dele, criativamente falando. Tem um texto que ele fala sobre alguns artistas e bandas, e eu escutava bastante o que ele costumava escutar, criei uma playlist só com os artistas que ele gostava, como Mutantes, Radiohead, entre outros. E foi interessante essa experiência, me levou pra esse universo dele.
Thalles Cabral no filme "Yonlu" (Divulgação)


Na questão física, eu estudei fotos dele pra entender como ele e o corpo dele se comportava e fui vendo fotos e vídeos, que ele mesmo filmava, pra entender como era esse comportamento físico. Partimos daí. Mas o Hique Montanari [diretor do filme "Yonlu"] me deu liberdade também para, em cima disso, ir criando com o que eu achava que seria interessante pro personagem. Teve momentos que eu não tive respostas, mas ia complementando com a construção que eu achava interessante para aquele personagem. Então, o Hique me deu liberdade pra isso, não foi algo completamente fechado
.


>>> Clique AQUI para ler nossa crítica do filme "Yonlu"!


PP - O fato de você também ser músico ajudou de alguma forma a captar a dor e o sofrimento do personagem
?
THALLES CABRAL - Eu acho que sim, me ajudou, mas não captar a dor e sofrimento, e sim a sensibilidade do personagem. Porque música é uma coisa muito especifica, ela te atinge em lugares muito complexos, e não físicos, que você, às vezes, não sabe como explicar. E as músicas dele, quando escuto, me trazem um sentimento que não sei elaborar, não sei como descrever. A música, a melodia, ela tem muita força. Sim, o fato de ser músico me ajudou a captar essa sensibilidade dele e do que ele tratava. Eu tive aulas de violão. Eu já tocava um pouco, mas tive aulas pra tentar me aproximar um pouco de como soava as gravações dele. E tem essa questão no filme que mostra o personagem compondo, criando pela primeira vez, encontrando aquelas melodias, aquelas letras experimentando coisas. Foi bem interessante...
O roteirista e diretor Hique Montanari observa
o ator Thalles Cabral no intervalo de uma cena de "Yonlu"
(Foto: Rodrigo Marroni / Divulgação "Yonlu, o filme")

PP - Como foi carregar o peso de ser o protagonista de um filme tão complexo - em essência e realização, algo até então não visto no cinema brasileiro
?
THALLES CABRAL - Foi uma grande oportunidade pra mim, eu nunca tinha feito cinema e, no meu primeiro filme, eu interpretar o protagonista, que não é qualquer protagonista, que tem uma série de conflitos, um personagem tão complexo quanto a forma do filme, mas acho que não foi um peso. No início, acho que não tive muita consciência disso. Eu embarquei total, eu queria fazer aquilo da melhor maneira possível. Eu já conhecia o trabalho dele, então queria fazer com muito carinho e não responder nada - até porque o filme não está aí para responder nada, ele existe para mostrar o lado artístico e criativo do Yonlu. Muito por isso, o filme chama 'Yonlu', e não Vinicius: a gente está falando do artista. Foi muito interessante, uma jornada que vou guardar para sempre. Foi um desafio pra mim. O filme é bastante experimental, no sentido de juntar muita coisa. Música, animação, fotografia... Tem momentos que a gente embarca no videoclipe de uma das músicas dele. Foi tudo muito intenso, mas divertido e prazeroso de fazer, pois eu consegui juntar tudo o que eu gosto em um trabalho só. Foi um junção maravilhosa!
"O filme existe para mostrar o lado artístico e criativo do Yonlu: a gente está falando do artista." 

(Thalles Cabral, ator)


Eu nunca tinha interpretado em inglês - eu falo, mas interpretar em inglês é uma outra coisa, é uma outra chave que se vira. Eu também nunca tinha tocado nenhum instrumento em um trabalho como ator, então foi uma experiência bem legal. Tem muita coisa do filme que a minha voz se mistura com a dele [Yonlu]. Então, algumas cenas, o Thalles começa a cantar e o Yonlu entra, e é uma junção, e ai você não sabe mais muito bem quem está cantando aquele trecho. A captação do áudio era valendo no set, além de entender a motivação daquela personagem e o estado que ele está naquela cena. Tinha também esse outro cuidado, com a afinação do violão, acertar os acordes, cantar tudo certo e afinado, com a interpretação e intenção certa da cena
.
O o ator Thalles Cabral repassa o texto com o roteirista
e diretor Hique Montanari em ensaio das filmagens de "Yonlu"
(Foto: Rodrigo Marroni / Divulgação "Yonlu, o filme")

PP - "Yonlu" teve sua estreia no Festival do Rio em 2017, com ótima recepção, o que garantiu ao filme alguns prêmios (em SP e RS). A que você atribui esse reconhecimento de público e crítica em relação a um tema tão delicado como a depressão numa pessoa tão jovem como o protagonista do filme?
THALLES CABRAL - Eu acho que o reconhecimento vem porque o público se identifica muito com aquele personagem. Eu tive bons feedbacks em relação a isso. A gente entra na mente daquele garoto extremamente talentoso e sensível e se identifica com algumas coisas que ele diz. Ele é um adolescente, tem questões que qualquer adolescente passa, então isso é interessante, o público se identifica com o personagem. 'Yonlu' é um filme completamente diferente - como você citou anteriormente, que é algo nunca visto no cinema brasileiro -, eu nunca assisti um filme no cinema nacional parecido com 'Yonlu'. Ele é um filme bastante artístico, no melhor sentido da palavra. Um filme que qualquer pessoa consegue se identificar. Não é focado em um nicho ou em um público só. É um filme que tem carisma. Não só bonito esteticamente, mas toda maneira poética e simbólica que o Hique [Montanari] cria no filme. É isso que cativa tanto: falar de um assunto tão delicado, mas de uma maneira bonita, que você entende e não tem julgamentos. Eu acho que é isso.

"Foi tudo muito intenso, mas divertido e prazeroso de fazer, 
pois eu consegui juntar tudo o que eu gosto em um trabalho só." 

(Thalles Cabral, ator)

PP - Quais seus próximos projetos em cinema, TV, teatro ou música?
THALLES CABRAL - Eu acabei de rodar um longa do Iberê Carvalho - um diretor de Brasília, que estreou com “O Último Cine Drive-in”. Agora é o segundo filme dele, chamado “O Homem Cordial” - protagonizado pelo Paulo Miklos - e é um grande filme. Quando eu li o roteiro pela primeira vez, falei: 'Preciso fazer parte desse filme, quero muito fazer'. É um filme extremamente atual, que levanta questões e debates muito interessantes, não só sobre classe social, mas também privilégios e raças. É um grande filme, tenho certeza que ele vai levantar muita discussão, de temas que a gente precisa falar - esse filme deve estrear ano que vem. Acabei de estrear no teatro com a peçaVincent River”, que é um texto de Philip Ridley e direção de Darson Ribeiro. É uma peça que fala sobre relações familiares, violência, homofobia, entre outras questões. Em cena, [sou] eu com a Sandra Corveloni, uma baita atriz que conheci na época de “Amor à Vida” [novela de 2013, TV Globo] - estou encantado, aprendendo muito com a Sandra. Ficamos até o final de setembro de 2018 em cartaz, no Sesc Vila Mariana (SP), e a ideia é, depois, viajar com ela. 
O ator Thalles Cabral e a atriz Sandra Corveloni na peça teatral "Vincent River"
(Divulgação)

Recentemente, comecei a ensaiar um espetáculo novo: 'Dogville' - o filme de Lars von Trier vai ter uma adaptação pros palcos. É um projeto bem legal. São 16 atores em cena, um elenco dos sonhos: Mel Lisboa, Fabio Assunção, Selma Egrei, entre tantos outros. E vai ser algo bem interessante, eu gosto muito de Lars von Trier. Tô muito feliz de estar nesse projeto, que estreia no Rio de Janeiro em novembro de 2018 e faz temporada em São Paulo ano que vem. E de música, acabei de lançar um clipe, uma das faixas do álbum 'Utopia', que lancei ano passado. O clipe saiu em 21/8/2018 e é da faixa “Just When We Were High” e eu que dirigi
.
Capa do álbum Utopia, de Thalles Cabral
(Crédito: Pintura de Valentin Fischer, artista plástico alemão)

PP - Uma última declaração...?
THALLES CABRAL - Queria agradecer o pessoal do Poltrona Pop. Espero que a gente se encontre em breve. Um abração e até mais.

A Equipe Poltrona POP agradece ao ator Thalles Cabral pela entrevista mas também ao diretor Hique Montanari por possibilitar o contato e à dupla Bruna AlvesGabriela Carvalhal (da Tudo em Pauta Comunicação Integrada) por intermediar com o ator. Sucesso a todos!