Embora 2017 tenha sido um ano bem complicado para quem curte cinema, com muitos "esse filme é demais" seguido por um "não, não é nada, você nem entende de cinema" - além, claro, da velha discussão sobre diversão e entretenimento versus arte -, tivemos umas gratas surpresas relacionadas à sétima arte.
Muitos filmes realmente surpreenderam o público e alguns trouxeram um novo frescor em relação ao que é produzido, tanto no Brasil quanto no mundo. Separamos 15 produções que se mostraram o melhor que o cinema trouxe aos reles mortais no ano que se encerra. Nossos critérios foram que os filmes foram exibidos no Brasil em 2017 e que o conjunto da obra falavam por si só (mas o roteiro, acima de tudo, tinha de ser muito bom, muito acima do que tem sido produzido ultimamente - e não apenas divertido ou que tenha sido um sucesso de bilheteria). Confira:
15) "O Rastro": Para quem achou que os filmes brasileiros de terror estavam aposentados - ou se resumiam apenas à produções que não alcançam o grande público -, este filme mostrou a que veio, entregando momentos de tensão dignos do que só o cinema de terror e suspense é capaz. Com grande destaque para um roteiro que desconstruiu conceitos, "sua trama não segue o esquema de ~'monstro da vez', mesmo que, a princípio, pareça exatamente o contrário" - como diz nossa crítica.
14) "Alien: Covenant": Um dos filmes que polarizou a internet em 2017, gerando discussões se era realmente bom ou ruim. Bem, Ridley Scott, em seus momentos menos inspirados, gerou "Perdido em Marte", que pode não ser um filmaço, é verdade, mas tá longe de ser um filme ruim. Assim como "Alien: Covenant", que dá sequência ao igualmente atacado "Prometheus" - outro filme polêmico -, mostrando que a história que precede a saga "Alien" ganha contornos cada vez mais interessantes e maduros. Marlo George - que só assistiu "Prometheus" dias antes da estreia de "Alien: Covenant" - cobriu Ridley Scott de elogios em sua crítica, por gerar um universo tão ou mais interessante que seu filme original: "Com um filme cerebral, aterrorizante e magnífico, Scott comprovou mais uma vez que é um dos maiores cineastas de sci-fi de todos os tempos".
13) "Um Homem Chamado Ove": Um tema que ainda deve ser mais debatido por nossa sociedade é a depressão - que sim, pode acontecer a qualquer um de nós. E esse filme sueco - que concorreu a dois Oscars (e não ganhou nenhum) - trata de um tema tão pesado com leveza e bom humor ao mostrar um personagem neurastênico mais de perto. Com uma linda fotografia e viradas na trama que realmente vão surpreender quem curte uma boa história sendo contada, "é o filme que vai fazer cada um de nós olhar diferente para aquele vizinho resmungão. Porque, talvez, ele tenha um pouco de motivo em reclamar como o mundo está hoje" - como defendeu nossa crítica.
12) "La La Land: Cantando Estações": Outro grande gerador de polêmicas em 2017, esse filme pode ser colocado na categoria "ame ou odeie", sem meio termo. Houve quem chorou na sala de cinema - né, Marlo? - e houve quem achou bacana e muito bem produzido (assim como muitos outros filmes desse ano) mas não ~"isso tudo" como muitos apregoaram por aí. A verdade é que "La La Land" é um daqueles filmes que precisa ser visto mais de uma vez para se alcançar sua mensagem. Plasticamente perfeito, muito de sua trama é descortinado de forma bem sutil, com pequenas dicas que dão sinais de que o final é o mais próximo da vida real que o cinema pode chegar, mesmo com toda cantoria, que pode irritar a princípio mas faz todo sentido quando chegamos ao fim do terceiro ato. E também tem outro agravante: quem não entende a ~"mecânica" por trás do cinema musical clássico não vai entender porque a história começa e termina da forma que se mostra na telona. Marlo George, em sua crítica, entendeu que "O script também é repleto de detalhes e sub-textos. Aqueles mais atentos vão poder catar várias mensagens escondidas nas entrelinhas do enredo". Então, se não gostou, reassista com menos expectativa e perceba para onde vai a trama. Fará a maior diferença...
11) "Corra!" / "A Bela e a Fera" : Outra grata surpresa para quem curte um bom suspense com pitadas de terror, esse filme conseguiu trazer o debate do racismo de volta a este tipo de produção, saindo da zona de conforto e lançando novas luzes a um assunto que nunca parece esgotado. Ainda que tenha uns probleminhas de ritmo e algumas piadas que são bem anti-climáticas, 'Corra!' mostrou o que pode fazer um comediante quando escreve e dirige um filme bem macabro como esse. "Afinal de contas, não é sempre que vemos que o maior monstro é o próprio ser humano", como alerta nossa crítica. Já "A Bela e a Fera" é um remake da cultuada animação, desta vez magistralmente executada com atores e atrizes de carne e osso. E só o fato de consertar diversos problemas no roteiro da animação original - mas manter todo o espírito da consagrada obra -, já bastaria para estar na lista de melhores filmes de 2017. Porém, além disso, o filme "é um verdadeiro divisor de águas em matéria de musical no cinema - mesmo que não reinvente a roda", conforme explica nossa crítica (e olhe que não somos fãs da animação original, hein...).
10) "Despedida em Grande Estilo": "De longe, o filme mais simpático de 2017", coloquei em meu perfil nas redes sociais assim que saí do cinema ao conferir este remake com elenco estelar e direção inspiradíssima. Revendo recentemente, percebemos como tudo foi bem arquitetado para gerar diversão de primeira qualidade, como há muito não se via. Este filme - de acordo com nossa crítica - "traz conforto à alma dos espectadores por sua trama simpática, mostrando que ainda é possível se divertir e refletir sobre a situação que o mundo está criando às pessoas que já trabalharam demais mas não recebem o que lhes é devido". Dito e feito.
09) "Fragmentado": Alardeado aos quatro ventos como "o filme em que Shyamalan voltou a ser Shyamalan"... Exageros à parte, 'Fragmentado' já merece elogios primeiramente por voltar ao universo de 'Corpo Fechado' - obra seminal deste diretor e roteirista - e também por entregar uma personagem (ou personagens) tão interessante a James McAvoy, dando-lhe a oportunidade de se dividir em oito atuações muito bem desenvolvidas, além de uma trama que, quando assistida por uma segunda vez, traz ao espectador uma maior imersão da obra. "Ainda debate, de forma inteligente, temas tão diversos como abuso, bullying, preconceito, além de uma certeira crítica sobre religiosidade e fanatismo", esclarece nossa animada crítica, escrita por quem torce, há muito tempo, que Shyamalan volte a fazer o que ele sabe: contar boas histórias.
08) "A Lei da Noite": "Este é um filme injustiçado por tocar em feridas que estão abertas até hoje - principalmente quando fala sobre imigração. Affleck sabia com quem tava mexendo. Mas, como seu personagem, pode ter ido longe demais. Entretanto, continuará tendo o apreço de quem curte cinema feito com esmero", ditou nossa crítica em plena semana do Carnaval. Escrito, dirigido e estrelado por Ben Affleck, baseado num obscuro livro, 'A Lei da Noite' eleva o filão dos 'filmes de gangsters' a outro nível, mostrando uma trama coerente, com atuações convincentes e que poderia ter concorrido a prêmios se não fosse a implicância inerente à pessoa de Affleck como diretor. Bem, podem torcer o nariz o quanto quiserem. Affleck sabe do riscado como ninguém. E isso é um fato que não poderá ser negado por muito tempo...
07) "Silêncio": Outro filme estranhamente subestimado - ainda mais sabendo que foi dirigido por ninguém menos que Martin Scorsese - e que ainda se entranha num assunto assunto bem tabu por parte de quem segue o catolicismo mas não conhece as origens da assim chamada "evangelização de novos cristãos". Embora seja um filme longo, por vezes exaustivo, usando muitas vezes do silêncio para contar sua trama existencialista e filosófica - além de possuir um dos piores cartaz já produzidos na História do Cinema -, segundo nossa crítica, "merece ser visto, questionado, debatido e analisado".
06) "Como É Cruel Viver Assim": Este filme foi uma grata surpresa que tivemos a oportunidade de assistir no Festival do Rio em 2017 - mas que só chega ao circuito nacional em 2018. A curiosa história de quatro amigos - ou nem tão amigos assim - que planejam sequestrar um milionário sem nunca terem participado de uma empreitada parecida poderia gerar uma comédia como outra qualquer. E a diretora Júlia Rezende teria condições de realizar algo neste gênero, uma vez que ela é responsável por filmes campeões de bilheteria que fizeram milhões de brasileiros gargalharem. Mas ao adaptar o texto original de Fernando Ceylão às telonas, tivemos um belo exemplar de cinema noir que "começa tenso mas doce, primaveril, deliciosamente suburbano e esperançoso. Mas termina azedo, meditabundo, filosófico até", segundo nossa crítica. Um dos melhores filmes brasileiros em muitos anos, que merece ser debatido em aulas de cinema por conta de sua construção esmerada, fotografia criativa e elenco afiado. Porque é assim que bons filmes são construídos...
05) "Patti Cake$": Dizer que este filme é apenas mais um daquelas obras motivacionais - a feel good movie - que pululam o cinema de quando em vez seria bem preguiçoso mesmo para quem quisesse detratar a obra escrita e dirigida por Geremy Jasper - que também escreveu as inspiradas letras de rap que compõem a trilha sonora original. Dizer que é um musical, que se parece com este ou aquele filme, seria um absurdo. Segundo nossa crítica - escrita em formato de letra de rap! -, 'Patti Cake$' é "um filme que já nasceu clássico / Escrevendo certo por rimas tortas". Todo o elenco tava muito inspirado, a fotografia é muito bem construída e o espectador sai melhor do que entrou da sessão. Se cinema não puder ser sobre isso, nem quero...
04) "Logan": "É preciso apreciar corretamente pois o canto do cisne é sempre mais belo perto de seu desvanecer", foi o que disse nossa crítica sobre o último filme de Hugh Jackman encarnando o amado mutante Wolverine. Lembrando que foi um feito e tanto que o estúdio liberasse um filme com censura 18 anos, com tamanha violência mas, acima de tudo, com um tremendo respeito ao personagem, como poucas vezes já se viu na tela do cinema. Mesmo que tenha um problema de desvio de roteiro, ainda assim, perto de tudo o que tem sido feito ultimamente com criações advindas de páginas com quadradinhos coloridos, 'Logan' ainda se destaca pelo eficiente e dedicado elenco, além da trama misturando gêneros como road movie, western e filmes de super-heróis. E nunca vi tanto marmanjo junto chorando numa sala de cinema. Que tanto cisco foi esse que caiu nos olhos de todos ao mesmo tempo?
03) "Como Nossos Pais": Como é bom terminar 2017 e perceber o quanto o cinema feito no Brasil pôde evoluir graças à iniciativas de se contar histórias diferentes, que, mesmo que expressem parte de nossa cultura, ainda possam ser compreendidas em outros países. Esse é o caso de 'Como Nossos Pais', ganhador de diversos prêmios no exterior, ainda consegue a proeza de não se limitar a ser 'apenas' cinema de arte, incompreensível, intangível, inalcançável. É cinema feito com esmero, calculado, comercial, que deveria ser estudado todo dia por quem sonha em viver da sétima arte. "O que seria, em mãos inábeis, um amontoado de clichês dignos de novelas mexicanas - nada contra mas cinema requer algo mais elaborado -, transforma-se num subtexto rico em detalhes muito interessantes a respeito do que é estar no íntimo de uma mulher brasileira moderna", afirma nossa crítica, esperando que mais filmes espertos como esse surjam de mentes brasileiras - porque o público só tem a ganhar.
02) "Armas na Mesa": Imagine cada segundo que antecede um tapa na cara - daqueles que não se espera, pega de surpresa e deixa uma mancha roxa na parte atingida. Quando a mão acerta a face com força, não há mais nada a fazer a não ser sentir o impacto, não é mesmo? Foi assim que me senti ao final da sessão de 'Armas na Mesa', filme estrelado por Jessica Chastain - atriz com um trabalho cada vez mais impressionante de caracterização. Mérito dividido com Jonathan Perera (um roteirista estreante) e o diretor John Madden (já indicado ao Oscar por seu trabalho em 'Shakespeare Apaixonado'), temos em cena um verdadeiro jogo de xadrez sobre um assunto difícil que exige muita atenção do espectador para não perder nenhum detalhe. E nada preparará para o tapa que certamente virá. Segundo nossa crítica, "é 'O' filme que deveria ser guardado para mostrar às gerações futuras um exemplo de como deve ser feito uma boa dramaturgia". Não tem como discordar, assim como não tem como entender a esnobada que esse filme levou nesta ingrata temporada de premiações.
01) "A Qualquer Custo" / "Yonlu": Estranhamente, 'A Qualquer Custo' foi indicado a diversos prêmios (só Oscar foram quatro indicações, incluindo Melhor Filme) mas não levou nada que fosse relevante. Mas a trama escrita por Taylor Sheridan, dirigida por David Mackenzie, estrelada por Jeff Bridges, Chris Pine e o fenomenal Ben Foster (uma tremenda injustiça não o terem indicado a Melhor Ator Coadjuvante) é de tirar o chapéu. Disfarçado de filme policial, é uma denúncia do que está acontecendo na terra daqueles que um dia já foram aclamados como heróis mas hoje mendigam por conta da recessão econômica que passa os Estados Unidos - assim como muitos outros países, ouvi dizer. Não tem espectador que não ficará pensativo ao final da exibição, imaginando que tudo foi feito de forma correta pois o motivo era plausível - e nada condenável. Já 'Yonlu' - que também assistimos no Festival do Rio em 2017 mas entra estará em circuito nacional (e internacional) apenas em 2018 - "é um misto de homenagem, denúncia e lamento. Tudo feito com sensibilidade e urgência, como não poderia deixar de ser", como resumiu nossa crítica. Apesar de ser baseado numa história real, não segue a cartilha do que a maioria das cinebiografias feitas no Brasil costumam fazer. Misturando drama e cinema autoral, a obra escrita e dirigida pelo estreante Hique Montanari (que já entrevistamos AQUI) - com personagem defendida com unhas e dentes por Thalles Cabral - divide criador e criatura, mostrando que uma madura nova geração de bons contadores de histórias estão surgindo para entregar mais do que lhes foi pedido. E ainda leva o mérito de mostrar a toda uma jovem geração que depressão é doença séria, que precisa de tratamento adequado e que não é frescura - nunca é. É virtualmente impossível não torcer pelo protagonista ou não se emocionar após a derradeira cena desta produção. E nunca vimos filmes que falassem tão forte ao expectador no Brasil como 'Yonlu' navega por caminhos novos, assimétricos, mas incrivelmente estimulantes. 'Yonlu' e 'A Qualquer Custo' são filmes difíceis, nada palatáveis, mas com discursos extremamente necessários nos dias de hoje. E, por isso mesmo, estão em primeiro lugar nessa lista...
Esta relação poderia estar completa sem as opiniões dos outros críticos da Equipe Poltrona POP. Vamos a elas:
- Andreas Cesar: "'Homem-Aranha: De Volta ao Lar'. Atuação do [Michael] Keaton, roteiro que proporciona um bom motivo pro vilão. Efeitos especiais incríveis e o fato de ser bastante divertido, valendo uma nova sessão";
- Jorge Caffé: "'Guardiões da Galáxia Vol. 2'. Conta com o peso e o charme de seus personagens, além da competência dos atores";
- Marlo George: "'Logan'. Foi o melhor de dois mundos".
>>> E lembre-se: clique AQUI para conferir quais os PIORES filmes de 2017 na opinião da Equipe Poltrona POP, que entende tudo - mas tudo mesmo - de cinema e entretenimento.
Kal J. Moon agradece por ter assistido filmes que valeram a pena o caro ingresso dos cinemas em 2017...