"Tico e Teco - Defensores da Lei" é o primeiro longa animado estrelado pela cultuada dupla de esquilos e pretende abordar o mundo das animações de uma forma adulta que nunca vimos antes (de novo!).


Copia mas não faz igual (de novo!)
Desde que "Você Já foi à Bahia?" (1944) estreou - onde Zé Carioca e Pato Donald contracenam com Aurora Miranda (mas todo mundo pensava que era Carmem, sua irmã mais famosa) - que Hollywood tenta replicar o sucesso e a popularidade que esta singela obra de arte da História do Cinema proporcionou nos tempos de outrora. Daí Gene Kelly dividiu uma dança com o ratinho Jerry (aquele que fazia dupla com o gato Tom) numa celebrada sequência animada (por ninguém menos que a dupla William Hanna e Joseph Barbera) de "Marujos do Amor" (1945). E dá-lhe "Mary Poppins" (1964), e toma "Uma Cilada para Roger Rabbit", e engole "Cool World - Mundo Proibido" (1992), e empurra garganta adentro tanto "Space Jam" (1996) e, décadas depois, "Space Jam - Um Novo Legado" (2021). Tudo que veio depois tenta trazer de volta uma narrativa para que o público acredite que os desenhos animados estão realmente vivos e vivem entre nós. E é nesse ponto que chegamos a "Tico e Teco - Defensores da Lei", que traz (de novo!) essa narrativa mais ~"realista" e depressiva que foram melhores exploradas em Roger Rabbit e Cool World.

Na trama, Tico e Teco vivem entre desenhos animados e humanos na cidade de Los Angeles nos dias de hoje, mas agora suas vidas são bem diferentes. Já se passaram décadas desde que a série de sucesso da dupla foi cancelada e Tico se rendeu a uma vida doméstica suburbana como um vendedor de seguros. Enquanto isso, Teco passou por uma "harmonização corporal" em computação gráfica e trabalha no circuito de convenções nostálgicas de fãs, desesperado para reviver seus dias de glória. Quando um ex-colega de elenco desaparece misteriosamente, Tico e Teco devem consertar a amizade rompida e assumir mais uma vez suas personalidades de Defensores da Lei para salvar a vida do amigo. 


Em tempo: o filme é divertido, um tanto anárquico e bem, bem honesto. Mas não sabe bem a que público agradar, de fato. Não chega a ser um proibitivo filme feito apenas para adultos nostálgicos da série animada estrelada pela dupla de esquilos (e dois ratos e um mosquito) em 1988 - se você tiver nostalgia desse seriado, acredite, você é a única pessoa da sua rua a sentir falta disso - mas também não se relaciona nem com o público infantil de hoje muito menos ao público infanto-juvenil.

É como se "Uma Cilada para Roger Rabbit" tivesse relações sexuais metafóricas com "Shrek" e "Deadpool" numa mesma noite e alguém engravidasse. A cria seria "Tico e Teco - Defensores da Lei". Ou seja, algo que remete à nostalgia dos bons tempos da animação, porém com algumas piadas e situações meio constrangedoras (e outras bem inesperadas). Mas estranhamente a ponto de crianças poderem assistir mas adultos gargalharão com alguns diálogos.


E se nosso nobre editor Marlo George apontou que "Animais Fantásticos 3" era o filme que merecia ganhar o Prêmio de Fan-Service Gigante, bem, acho que "Tico e Teco - Defensores da Lei" provavelmente deveria concorrer - ou até ganhar - tal prêmio pois O FILME INTEIRO é um fan-service. Num nível que praticamente CADA CENA tem algo que faz alguma referência à alguma animação, desde o gato que dançava com Janet Jackson num clipe até um personagem obscuro criado por R. Crumb (é, Crumb num filme da Disney é algo digno de nota) - dentre outras que são bem interessantes, como o "Sonic Feio", que é, literalmente, um personagem importante na trama. Nesse sentido, é um filme para assistir mais de uma vez para ficar procurando essas referências e homenagens. Não chega a ser algo que siga a narrativa ~"multiversal" que está atacando as produções cinematográficas atuais - até porque ninguém viaja entre dimensões nesse filme - mas meio que cumpre esse papel para essa geração que nem deve saber quem diabos é Roger Rabbit...

Agora, quando nos referimos ao roteiro da dupla Dan Gregor e Doug Mand... Bem... O esqueleto de acontecimentos é muito semelhante ao que é apresentado em Roger Rabbit, que também mistura a atmosfera de film noir a dos buddy-cop movies oitentistas onde uma dupla de personalidades completamente diferentes precisam se unir em prol de algo ou alguém em comum. E assim como em Roger Rabbit, também temos uma espécie de denúncia contra o que a modernidade trouxe ao mundo das animações. Aqui, trata-se dos "desenhos suecados", versões genéricas e muito alteradas de grandes animações do passado e do presente que podem ser definidas por "parecidas mas não exatamente iguais" para não ter problemas com direitos autorais (você provavelmente já esbarrou com um deles em lojas que vendem DVDs).


As soluções apresentadas na trama são ou fáceis demais (para não exigir muito da audiência mais jovem) ou mal elaboradas (quando assistidas pelo público mais velho). Por exemplo, sem spoilers, numa cena, Tico e Teco são empurrados para uma ameaça que, se eles dessem um passo para trás, não só escapariam como economizaria uma parte da trama que em nada acrescenta à solução final da história. E tem umas barrigas na trama que facilmente poderiam ser podadas...

Já a direção de fotografia de Larry Fong (de "Batman Vs Superman" e o recente "Kong - A Ilha da Caveira") é bem diferente para filmes do gênero, utilizando uns ângulos bem inusitados para não somente fotografar os atores como espaços diminutos da dupla de esquilos, fazendo o espectador imaginar como algumas cenas foram realizadas. A trilha sonora de Brian Tyler é apenas funcional e nada marcante.


"Tico e Teco - Defensores da Lei" é fofinho em uns momentos, ácido e sarcástico em outros mas cumpre o papel de entretenimento. Mas não é essa tubaína toda que estão aclamando por aí, não - porque é só mais um retorno que ninguém pediu de verdade. É como sempre dizemos (de novo!): assista com baixa expectativa e tire suas próprias conclusões. 



Kal J. Moon é o terror que voa na noite! É a mosca que pousou na sua sopa... De novo!


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