Com direção de Mark Mylod, estrelado por Ralph Fiennes, Anya Taylor-Joy e Nicholas Hoult - com participações especiais de nomes como John Leguizamo, Hong Chau, Janet McTeer, Judith Light e grande elenco -, "O Menu" divide opiniões e pode ser considerado o grande esnobado das premiações em 2023...
Assistir "O Menu" sem saber uma linha da sinopse ou mesmo assistir os vídeos de materiais promocionais é mais ou menos como degustar aquele banquete num lugar chique e requintado: não se sabe o que vai esperar mas a experiência com certeza será ainda mais marcante para quem nunca teve a oportunidade. E o diretor Mark Mylod (de seriados como "Succession" e "Game of Thrones" e filmes esquecíveis como "Qual Seu Número?") tinha plena consciência desse fato quando aceitou o desafio de fazer um dos filmes mais ~"diferentões" de 2022.
Na trama, um casal viaja para uma ilha remota - junto a outros transeuntes - a fim de conhecer o exclusivo restaurante onde um excêntrico chef (para dizer o mínimo) preparou um menu de luxo com algumas surpresas bem chocantes.
Mesmo sem entrar em terreno minado de spoilers, é possível dizer que "O Menu" é um esforçado ensaio do que é considerado entretenimento nos dias de hoje, ainda que, superficialmente, trate apenas do universo culinário com ares de tantos reality shows que vemos por aí - só que com resultados pra lá de extremos.
Toda a trama - com todos seus exageros e absurdos - gira em torno do que é refinado e o que o público espera consumir. Alguns tem mais conhecimento de causa para avaliar o que está sendo servido pelo chef, outros parecem mais interessados no método de execução do que no produto e ainda tem quem nem entenda do assunto e ache tudo muito esnobe para o próprio gosto. Exatamente como o público atual faz para escolher que tipo de filme vai assistir.
Blockbusters podem ser comparados àqueles cheeseburgers bem gordurosos, cheirando muito bem, mas com valor nutricional próximo de zero e que viciará o paladar pelo resto da vida quando consideramos isso como algo ~"bem feito" - pode ser delicioso mas "bem feito" quando se trata de culinária tradicional...? E existem aqueles filmes profundos, mais preocupados em apresentar uma narrativa mais artística, cujas histórias podem servir não apenas como entretenimento mas também como boa fonte de reflexão, capazes até de formar caráter - semelhantes a pratos culinários mais elaborados, servidos com toda finesse e que dá até receio de saborear mediante tão bela apresentação. Mas esse último exemplo não estreia toda semana no cinema ou em sua plataforma de streaming favorita, não é mesmo? Pois é...
O restante do elenco é esforçado mas faltou pular aquele obstáculo maroto para alcançar Fiennes em sua corrida cênica. Anya Taylor-Joy (do recente "O Homem do Norte") tenta fugir dos estereótipos que cercam sua carreira e entrega uma personagem matreira num belo momento de roteiro no terço final. Porém, nada exatamente fora do comum e até oscila a qualidade de interpretação, mostrando-se um tanto perdida, assim como sua personagem... Já Nicholas Hoult (de "X-Men - Fênix Negra") está bem como algo próximo de (mais) um neófito, se agradando mesmo quando ocorrem momentos que beiram a mais completa falta de lógica - e o roteiro também lhe reserva um ótimo momento para que a audiência acredite em suas motivações. Infelizmente, o também veterano John Leguizamo (do recente "Noite Infeliz") é um óbvio alívio cômico, com algumas boas cenas. E a badalada Hong Chau (de "Pequena Grande Vida" e que está concorrendo a Melhor Atriz Coadjuvante por seu trabalho no elogiado "A Baleia") está apenas funcional, assim como o restante do elenco.
Porém, apesar de tantos elogios, o terço final - que é um baita 'deus ex-machina' em determinado momento - precisa de muita suspensão de descrença da audiência para aceitar a proposta da resolução da trama. Sim, se aceitarmos que tudo não passa de uma metáfora sobre o que é fazer cinema de qualidade em tempos de filmes cada vez mais artificiais e "sem sustância", fica bem claro que é como se os roteiristas - e, principalmente, o cineasta - estão literalmente levantando uma placa em protesto ao que é considerado popular em matéria de entretenimento atualmente. E parte do público pode nem sequer "alcançar" a mensagem, se levar tudo ao pé da letra - e, pior, sair da sessão achando que assistiu um filme com um bom início mas com um péssimo final. Culpa do excesso de tempero da trama em diversos momentos, onde pedia-se equilíbrio e parcimônia. Porém, pelo menos peca mais pelo excesso do que pela omissão...
Kal J. Moon cozinha razoavelmente bem e prefere pratos... cheios.
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