Escrito e dirigido por Brian Duffield, estrelado por Kaitlyn Dever, Dari Lynn Griffin, Geraldine Singer, Zack Duhame, Dane Rhodes, dentre outros, o filme "Ninguém Vai Te Salvar" tenta responder a questão mais enigmática de todos os tempos: qual o real interesse de alienígenas nos seres humanos?


Resistir é inútil
Desde a mais tenra e inicial era do cinema que filmes envolvendo alienígenas são feitos aos borbotões, sendo virtualmente impossível listá-los pois neste exato momento em que se lê essa crítica, mais algum desses exemplares audiovisuais de ficção científica hardcore provavelmente está sendo produzido... E "Ninguém Vai Te Salvar" não é o melhor muito menos o pior... É apenas mais um desses com um pequeno diferencial estrutural que é tanto seu principal acerto quanto seu principal dificultador narrativo...

Na trama,  uma jovem com sérios problemas de socialização (por conta de um grande trauma do passado e que mora sozinha na casa que viveu desde a infância) tenta sobreviver durante uma... invasão alienígena.

Neste ponto, para entender porque a qualidade narrativa de "Ninguém Vai Te Salvar" é tão oscilante, temos de analisar a carreira de Brian Duffield, roteirista e diretor do filme. Como roteirista, seus projetos oscilam tanto em qualidade como em recepção de crítica e público. Co-escreveu roteiros de filmes bacanas e descolados como "A Babá", "Ameaça Profunda" e "Amor e Monstros" - mas também colaborou em bombas como "A Série Divergente - Insurgente" e o recente série animada "A Ilha da Caveira", dentre muitas outras.


OK, não dá pra acertar sempre mas, sendo sua segunda incursão na direção e décima em roteiro, espera-se alguma maturidade, principalmente quando se utiliza de um artifício narrativo tão limitador, uma vez que "Ninguém Vai Te Salvar" é um filme... mudo - ou quase. Sim, temos efeitos sonoros, explosões, trilha sonora e tudo o que faz uma obra audiovisual funcionar mas em toda a rodagem há apenas DUAS falas (e uma delas é interjeição, então não deve contar). Com isso, a narrativa inteira precisa se pautar no visual e no elenco se esforçando para ser mais do que uma profusão de pantomimas de caras e bocas enquanto que boa parte da atuação depende mais do físico para demonstrar o emocional...

Dito isso, Duffield acerta e erra na mesma proporção. Enquanto diretor dessa singular trama, precisa extrair muita emoção de diversos personagens sem "apelar" para falas expositivas - mesmo assim, o roteiro é bem didático, montando a história que quer contar com recursos como cartas, fotografias, anotações e até lembranças (menos a palavra falada na maioria das cenas). Porém, em determinados momentos, por conta de diversas cenas hiper-frenéticas de resistência física (e da confusa edição e montagem de Gabriel Fleming), a audiência pode não entender o que de fato está acontecendo.

(sem dar qualquer spoiler, algumas questões podem ser levantadas como "em que momento ela pegou aquilo?" ou "se fulano caiu de tal altura, não teria quebrado o braço ou uma costela?" ou ainda "essa pessoa bateu a cabeça e sangrou muito... Como consegue ficar de pé?" - e pior "como fulano sobreviveu a uma facada no estômago?")


Porém, por mais absurdo que possa parecer, a trama mais se parece com um estudo psicológico do que uma contumaz história de invasão alienígena, pelo simples fato de que a protagonista passa por diversos desafios para resolver um grande trauma do passado - meio na base do "tratamento de choque". É como se o filme estivesse o tempo todo dizendo que, para sobreviver à depressão, é necessário enfrentar os medos e, acima de tudo, perdoar a si mesmo pelos erros cometidos na juventude (só assistindo para entender...).

Ainda falando do roteiro, talvez o principal problema apresentado seja na cena final. O desfecho é ambíguo e deveras confuso, deixando margem para diversas interpretações, que não fazem muito sentido se pensar a respeito das próprias regras que o roteiro apresenta inicialmente.

Quanto à atuação, o principal (e óbvio) destaque vai para Kaitlyn Dever (do recente "Rosalina") - para o bem e para o mal. Enquanto que a jovem atriz tem fôlego para correr longas distâncias durante suas cenas mais energéticas, é justamente nos momentos mais delicados e dramáticos que residem suas limitações, fazendo com que sua interpretação tenha pouca variação de tom. Ora acerta, ora está esforçada e ora é somente cansaço. 


O restante do elenco está bem operacional - até porque a narrativa pede que a maioria haja "uniformemente" (mais uma vez, só assistindo para entender) -, com um único destaque para Geraldine Singer (de "Corra!" e "Green Book - O Guia"), que, mesmo sem dizer uma palavra, consegue expressar todo o desprezo que sua personagem nutre pela protagonista (bem compreensível, quando se analisa o contexto geral).

Outro destaque é da inspirada trilha sonora original composta por Joseph Trapanese (de "O Abutre" e  "O Rei do Show"), que traz diversos arranjos de cordas, imprimindo e acrescentando tensão e suspense na dose certa, quando necessário.

A direção de fotografia comandada por Aaron Morton (do recente seriado "O Senhor dos Anéis - Os Anéis de Poder") é precisa porém ousada até certo ponto, angulosa e abusando de frames cromáticos, num belo exercício de mistura de luzes e cores, trazendo o tal diferencial visual que um filme do gênero necessita. 


Já os efeitos visuais comandados por Patricia Martinez Arastey e equipe funcionam na maioria das vezes. O visual alienígena é exatamente o que está no imaginário coletivo, com algumas peculiaridades bem específicas (vale a pena ver o que fizeram em matéria de "explicação biológica") e podem até figurar entre as premiações de 2024...

"Ninguém Vai Te Salvar" pode não ser a obra que vai reinventar sci-fi para novos públicos mas toca em temas que deveriam ser discutidos com mais frequência, além de ser um criativo esforço do que fazer em matéria de se contar uma trama com tema explorado à exaustão. Baixe a expectativa, assista e tire suas próprias conclusões...




Kal J. Moon é um alienígena vindo do planeta Krypton enviado ainda bebê ao planeta Terra. Quando adulto, tornou-se jornalista e crítico de obras audiovisuais, além de combater o crime nas horas vagas... 



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