Dirigido por S.J. Clarkson e estrelado por Dakota Johnson, Sydney Sweeney, Celeste O'Connor, Isabela Merced, Tahar Rahim, Emma Roberts e Adam Scott, o filme "Madame Teia" explora uma diferente faceta do Aranhaverso da Sony Pictures - para o bem (?!) ou para o mal...


A hora e a vez do filme 'cena pós-créditos'
Existem estudos científicos a respeito do que ocorre com o cérebro humano quando perde mais de três minutos de oxigênio e há quem diga que, por conta dessa ~"experiência de quase morte", pode-se despertar ou desenvolver algum tipo de habilidade que não possuía anteriormente - nada extraordinário ou sobrenatural mas algo como tocar violino sem nunca ter tido aulas ou calcular mentalmente quantias absurdas para um ser humano normal.

Só esse tipo de baboseira pseudocientífica que acabei de formular - baseado em coisas que já foram exploradas à exaustão em livros, quadrinhos, games, animação e, claro, cinema - já é um ponto de partida superior à narrativa apresentada em "Madame Teia". Sério, mesmo com muita boa vontade, é uma árdua tarefa defender a produção e lançamento desse filme...

Na trama, Cassandra Webb é uma jovem paramédica cuja mãe era uma pesquisadora de aranhas, que teve contato com o misterioso Ezekiel Sims durante uma expedição na Amazônia quando Cassandra ainda era uma criança. Depois de sobreviver a um grave acidente, Cassandra adquire poderes paranormais e tem flashes sobre o futuro iminente, principalmente quando outras pessoas estão para morrer. Por conta disso, começa a ser perseguida por Ezekiel Sims, uma espécie de 'pessoa-Aranha' do mal, que quer matá-la junto com quatro adolescentes que, estranhamente tem ligação com Cassandra...

Se você já assistiu a qualquer um dos trailers ou materiais promocionais de "Madame Teia", provavelmente já presenciou a melhor versão dessa obra audiovisual. O que é apresentado na telona é uma indigesta mistura de plots vistos nas sagas "Premonição" e "O Exterminador do Futuro", com fortes doses de bizarrices advindas de "Anaconda" ou "Turistas" - ou, ainda, "Bem Vindo à Selva" (é sério!) - e outros filmes que não sabem como é a Floresta Amazônica nos dias de hoje...


O roteiro apresentado por Matt Sazama, Burk Sharpless, Claire Parker e a própria diretora S.J. Clarkson (baseado na história imaginada por Kerem Sanga, Sazama e Sharpless) não só é uma bagunça e um desserviço à escrita cinematográfica como deveria ser objeto de estudo para exemplificar a futuros escribas da sétima arte o que não fazer.

OK, a personagem criada nos anos 1980 pelo saudoso roteirista e editor Dennis O'Neill e o desenhista John Romita Jr. para os quadrinhos do Homem-Aranha na Marvel Comics nunca foi popular a ponto de fazer com que o fandom realmente se importasse com ela. Mas custava ao menos entregar algo minimamente decente em matéria de narrativa quando fosse adaptada para o cinema? Tudo o que qualquer audiência quer - independente do gênero de qualquer filme, seja de super-heróis ou não - é assistir algo bacana quando paga o caro ingresso das sessões. Só isso. Não precisa ser maravilhoso, só "okay" já tá de bom tamanho.

O roteiro entregue por esse verdadeiro quadrilátero de incompetência não acerta em matéria de tom, humor, suspense, ação, muito menos quando se fala em personagens cativantes - por que deveríamos torcer pelas heroínas apresentadas e temer por suas vidas se nem ao menos nos importamos com elas? Pois é... A motivação do vilão - que inexplicavelmente é milionário, ainda que não se saiba direito como alcançou sua fortuna sem ser herdeiro e nem porque se veste como um 'Homem-Aranha do mal' - é apenas "essas meninas vão me matar em algum momento no futuro daqui há uns dez anos, quando tiverem super-poderes, então tenho de matá-las antes que isso aconteça". Mas POR QUÊ elas vão matá-lo? Não, aí você está querendo saber demais...

E diversas situações apresentadas no roteiro nem sequer foram questionadas por quem escreveu essa bagunça como "de que forma o vilão conseguiu retirar DE SUA MENTE as imagens de suas visões premonitórias para gerar fotos das adolescentes que vão matá-lo e rastreá-las?" ou "por que as adolescentes entram no carro em vez de procurarem a polícia logo depois de serem quase assassinadas?" (ok, uma delas tinha um problema com a polícia mas as outras não...) ou ainda "por que a protagonista deixa adolescentes AMEAÇADAS DE MORTE com um conhecido do trabalho e viaja para o Peru a fim de aprender mais sobre seus poderes?" e, pior, "como é que uma mesa comum de lanchonete fast-food aguenta o peso de TRÊS ADOLESCENTES DAN-ÇAN-DO em cima dela?!" (sim, isso acontece numa das cenas mais constrangedoras). Tantas questões que simplesmente desafiam a lógica...

(o real problema desse roteiro é ter forte inspiração no arco "O Outro", escrito por J. Michael Straczynski e considerado uma das piores histórias em quadrinhos do universo do Homem-Aranha)


A direção de S.J. Clarkson (vinda da TV, de coisas bacanas como "Vinil" ou "Bates Motel" - ou porcarias como "Os Defensores", minissérie Marvel que não era Marvel mas agora é) é caótica. As (poucas) cenas de humor não funcionam, a interação entre as atrizes Sydney Sweeney, Celeste O'Connor, Isabela Merced com Dakota Johnson - cujas personagens parecem ser muito mais jovens do que realmente o são pelo que é apresentado no roteiro - é problemática em diversos níveis (mas isso também é culpa do roteiro, do qual ela também é parcialmente culpada) e o vilão até poderia funcionar se a atuação de Tahar Rahim fosse menos histriônica. Entenda: tudo isso é culpa da direção, não exclusivamente da atuação do elenco, uma vez que quem dirige é quem sabe qual a "visão" de cada personagem, como deve se comportar, agir e, o mais importante, reagir. Mas aqui o elenco parece mais perdido que a audiência, tentando entender o que está acontecendo.

(Para não dizer que não há nada que se salve nesta pataquada, existe uma cena que visualmente remete ao filme "Corpo Fechado", resultando numa bela homenagem ao amado e odiado diretor M. Night Shyamalan - obra que é estrelada por um personagem que tem... premonições. Sacaram?)

E as cenas de ação? Temos algumas no início e uma grande perseguição no fim, que descamba para uma grande explosão. O que tem entre tudo isso? Uma frenética e picotada edição de visões do que poderia acontecer - cortesia de um confuso trabalho coordenado pela direção de fotografia de Mauro Fiore aliado à edição de Leigh Folsom Boyd -, além de desnecessárias tomadas que se passam na Floresta Amazônica para que a heroína "descubra mais sobre seus poderes". E tome citações visuais a filmes Marvel como "Doutor Estranho", "Capitão América", "Homem-Aranha"... - tudo meio desconexo e desleixado.

O restante do elenco mal registra. Adam Scott faz o que pode como a versão mais jovem do futuro Tio Ben (sim, o marido de May Parker, que dirá a famosa frase "Com grandes poderes..." - aliás, esse bordão está no filme, da forma mais constrangedora imaginada). Emma Roberts aparece como a mãe do futuro Peter Parker - mas isso não é dito em momento algum, sabemos apenas que ela está grávida e acompanhamos uma embaraçosa cerimônia de chá de bebê (PARA... QUÊ?!). Mike Epps também está no filme, até que não está mais e o espectador nem percebe, mesmo que o que ocorra seja bem grave a seu personagem...

E por que diabos essa história se passa em 2003? Simples: para que essas personagens já tenham 20 anos de "carreira super-heroística" nos dias atuais e possam ser utilizadas em suas versões adultas num futuro filme - quem sabe o "aguardado" projeto "Sexteto Sinistro", que reuniria todos os vilões do Amigão da Vizinhança. Mas criar diversos filmes-solo razoáveis ou essencialmente ruins para reunir esses personagens num vindouro produto audiovisual para cinema é uma boa estratégia?

Quando a Marvel Studios entregou filmes como "Homem de Ferro", "O Incrível Hulk", "Thor" e "Capitão América" antes de formular o primeiro "Os Vingadores", trouxe obras ao menos palatáveis (na pior das hipóteses) a todas as audiências, de crianças a adultos, fazendo valer a espera - obtendo resultado mais do que satisfatório. Entretanto, quem de fato está morrendo de ansiedade por filmes como "Madame Teia", "Kraven", "El Muerto" ou "Hypno-Hustler" (estes dois últimos, nem se sabe se serão realmente lançados)?! Para quem esses filmes bizarros estão sendo feitos? A pergunta é válida porque, à exceção de "Venom", a maioria foi fracasso homérico de bilheteria...


Sobre o título dessa crítica, trata-se de um spoiler sobre o final da trama. Portanto, se não quiser estragar sua experiência (ha!), pule para o parágrafo seguinte e termine de ler o restante. Mas se não se importa, selecione com o mouse a parte em branco (por sua conta e risco)...

[ ↓ INÍCIO DA ÁREA DE SPOILER ↓ ]

Lembram das cenas onde Sydney Sweeney, Celeste O'Connor e Isabela Merced aparecem vestidas com seus trajes de super-heroínas? Pois é, isso ocorre apenas no início, durante a visão premonitória do vilão, assim como no final, numa visão premonitória de Cassandra Webb, que fica cega ao salvar as adolescentes por conta do incidente na explosão de fogos de artifícios e, também em sua visão, aparece usando uma versão do super-traje de Madame Teia dos quadrinhos, com direito a óculos Ray-Ban metálico e tudo. Ou seja: toda a história do filme se resume a um grande "vem aí"...

[ ↑ FIM DA ÁREA DE SPOILER ↑ ]

"Madame Teia" tinha um pequeníssimo potencial para se destacar na grande seara do sub-gênero de filmes baseados em quadrinhos de super-heróis - lembrando que a ideia principal não é ruim mas muito mal executada. Porém, infelizmente, é mais um filme que entrega uma nada bem vinda sensação de mal estar por não saber se formatar adequadamente como produto audiovisual. "Madame Teia" é algo que precisa melhorar MUITO para ser considerado um filme ruim. Se quiser dar uma chance, assista em casa. Ou nem insista. A vida é curta...




Kal J. Moon ainda acha uma oportunidade desperdiçadas não terem colocado as Aranhas para brigar... no Peru.

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