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CRÍTICA [CINEMA] | "Acompanhante Perfeita", por Kal J. Moon

Escrito e dirigido por Drew Hancock, estrelado por Sophie Thatcher, Jack Quaid, Megan Suri, Rupert Friend, Lukas Gage e Harvey Guillén, o filme "Acompanhante Perfeita" é o perfeito exemplo de como o material promocional (e uma execução bem questionável) pode arruinar uma ideia promissora...


Modernidade líquida
Com o avanço da tecnologia, a geração atual desfez-se de preconceitos e transformou praticamente tudo em algo que possa ser considerado descartável: relacionamentos afetivos (se não serve ao propósito idealizado, não há necessidade de cultivar), sexo (erotizar o virtual pode resolver problemas de distanciamento físico), relações de trabalho (home-office rende fortunas à empresas que não repassam adequadamente parte de seus lucros a empregados, que têm que usar o salário para pagar energia elétrica, internet, água e gás de cozinha para não receber nem algo próximo do valor de aluguel para ocupar um cômodo de sua casa como "escritório") e, claro, a preferida de todas: ética (por trás de um avatar, pode-se dizer - ou fazer - barbaridades de forma virtual sem necessariamente sofrer punições a respeito). E por que não juntar tudo isso numa história só? É mais ou menos isso que o filme "Acompanhante Perfeita" faz. O problema é como o faz...

Na trama, um casal tem um encontro romântico numa idílica cabana mas as coisas não são exatamente o que parecem e não demoram a dar muito errado...



Ainda que o primeiro teaser (quando o filme ainda tinha data de estreia para janeiro de 2025) tenha deixado o suspense no ar, gerando alguma curiosidade, como dito acima, um dos principais problemas desse filme reside em sua campanha de marketing, que entrega a principal reviravolta da trama em cartazes e trailers. E não tocar nesse assunto é preservar o pouco de surpresa que o filme reserva à sua audiência.

O roteiro escrito por Drew Hancock (da série animada "Mr, Pickles", em sua estreia em roteiro e direção para cinema) tem "cara" de algo feito para streaming - algo que até guarda uma boa ideia mas muito mal elaborada, com personagens unidimensionais (ainda que se utilizem de imensa verborragia para disfarçar evidentes problemas de construção de personalidade) e situações que beiram o nonsense, só que levadas bem a sério. E ainda tem o problema de que os personagens tem um problemaço para resolver mas a trama parece não transmitir corretamente essa urgência. Até mesmo o pouco humor apresentado é prejudicado pelo texto precário. A impressão que dá que que Hancock trata de assuntos que não domina - e até dá pra fazer um exercício de criatividade e imaginar como seria a desenvoltura desse mesmo roteiro mas nas mãos de cineastas como Emerald Fennell (de "Bela Vingança") ou mesmo Coralie Fargeat (de "A Substância")...

Veja bem: a ideia de transformar uma "falsa" comédia romântica num slasher em que o "monstro" e a final girl sejam a mesma pessoa é bem interessante (mesmo que o conceito já tenha sido utilizado recentemente em "Maligno"), se devidamente trabalhada para que resulte em algo que ofereça entretenimento. Mas quando o diretor Drew Hancock tem muitos recados para dar, acenando com assuntos que não interessam nem movimentam a trama, resta apenas esperar que tudo acabe da melhor forma possível - o que não é o caso aqui...


Porém, mesmo com todas as adversidades narrativas e de notória falta de experiência na condução da obra, vale destacar o trabalho de Sophie Thatcher (do recente filme "Herege"), que interpreta sua personagem Iris com uma entrega digna de quem quer realizar um bom trabalho de composição. Pena que muito do impacto inicial do que ela realiza em cena é literalmente estragado para quem assistiu os trailers ou viu algum dos cartazes, fazendo com que a principal reviravolta da trama seja prevista antes mesmo de acontecer...

O restante do elenco - assim como qualquer um que integre elenco de slasher - é perfeitamente descartável, incluindo o coprotagonista Jack Quaid (da série "The Boys" e do vindouro filme "Novocaine - À Prova de Dor"), que, por conta de ter um roteiro com um personagem hiper estereotipado, acaba entregando uma performance "automática" (sem trocadilhos) e Megan Suri (das séries "Eu Nunca..." e "Poker Face"), que tem participação menor do que deveria...


A direção de fotografia comandada por Eli Born (do recente "Ninguém Vai Te Salvar") até tenta emular enquadramentos mais sintéticos, com bastante filmagem utilizando drones e muitos movimentos isométricos - o que tem a ver com a tal surpresa da trama. Já o figurino de Vanessa Porter (de "A Despedida") é correto ao transmitir aquele habitat natural de pessoas bem sucedidas - ou que tentam parecer exatamente isso. Porém, a trilha sonora original composta por Hrishikesh Hirway (da série "Everything Sucks!") mal registra, de tão genérica.

"Acompanhante Perfeita" é a ideia certa nas mãos erradas e um filme "sem alma" (sem trocadilhos). Seduz a audiência, prometendo algo arrebatador e selvagem mas, no fim das contas, tem jeitão de algo feito para streaming e é só um mais do mesmo com pouco mais de uma hora e meia de duração. Muito barulho por nada. É o filme "soca-fofo" do ano...




Kal J. Moon não acredita em amor moderno...

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