Quem já teve o (des)prazer de organizar qualquer evento social, sabe a pressão que é para todos os envolvidos - o segredo é ter uma lista do que pode dar errado e o que fazer para solucionar o mais breve possível para que os convidados não percebam. Mas CA-SA-MEN-TOS são o topo da cadeia alimentar dos eventos sociais. Se algo der errado, pode gerar um trauma em muitas pessoas - e arruinar carreiras. E a dramédia "Casamentos Cruzados" tenta trazer um pouco dessa energia quase incontrolável às telinhas, mostrando o quão mesquinhos são os seres humanos - mas também o quão prejudicial é não ser honesto com membros da família.
Na trama, uma mulher - que planeja o casamento perfeito de sua irmã - e o pai de uma jovem noiva descobre que eles estão com reserva dupla de cerimônias em resort numa ilha. Quando ambas as partes decidem partilhar o pequeno local, instaura-se o caos e o desastre está a caminho...
Mas, mesmo que arranque algumas boas risadas em algumas cenas, constrangedoras ou hilárias (uma envolve um crocodilo - com direito à citação à canção de abertura do clássico desenho animado "Wally Gator" - e outra é uma piada recorrente sobre tintura de cabelo), ainda há espaço para debater, de forma breve e sucinta, sobre abandono familiar, a diferença básica entre franqueza e falta de educação, fobias sociais (que não existiam antes da época do celular ou da internet) ou mesmo o fato de que ninguém é bonzinho 100% do tempo.
O elenco está bem e o roteiro ainda conseguiu dar destaque aos quatro protagonistas mas também gera cenas em que cada um tenha uma ou mais falas, com uma pequena visibilidade. Will Ferrell (de "Quiz Lady") e Reese Witherspoon (da série "The Morning Show" e do filme "Na Sua Casa ou na Minha?") estão mais corretos do que o que o público está acostumado mas dão conta do recado dos momentos de "comédia física" - até porque esse filme começa como uma "comédia de erros" mas encerra como uma "comédia romântica" (e essa mudança de sub-gênero funciona da metade para o final por conta do elenco).
E tem, claro, Jack McBrayer (do recente "A Batalha do Biscoito Pop-Tart" e velho coadjuvante dos filmes de Ferrell), que sempre rouba a cena como o personagem que ele costumeiramente interpreta: aquele cara que não entende bem do assunto mas tenta agradar com um simpático sorriso. A tal piada sobre tintura de cabelo só funciona bem por conta de suas reações...
Também merece reconhecimento a trilha sonora composta por Michael Andrews (de "Donnie Darko" e do recente "Dezesseis Facadas") - preste atenção numa canção irritante (e hilária!) interpretada apenas por um coral, cantando sílabas (de forma bem "zoada") que normalmente não se usam em músicas clássicas -, que ambienta bem o clima de rivalidade e problemas que aparecerão desde o primeiro instante. O figurino de Kathleen Felix-Hager (da série "Hacks") compõe bem o que as personagens são: convidados de um casamento mais discreto e conservador ao lado de convidados de um casamento mais "bagaceiro" e festeiro.
"Casamentos Cruzados" funciona como entretenimento e alguma reflexão sobre como os tempos modernos nos obrigam a realizar tarefas que nem mesmo queríamos somente para agradar a sociedade - ou nos fazer pensar que nem sempre o que achamos das pessoas é o que de fato as pessoas são. Uma boa opção de diversão com menos de duas horas de duração. Não é nada demais, não vai concorrer a prêmios mas que venham mais filmes assim...
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