Dirigido por Björn Runge e estrelado por Glenn Close, Jonathan Pryce e Christian Slater, "A Esposa" deu o prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro 2019 para Close, apesar de ser um filme bem...


Muito barulho por nada (mesmo!) 
Glenn Close talvez seja a atriz mais subestimada de todos os tempos na História do Cinema. Há quem - maldosamente -  a chame de ~"uma Meryl Streep genérica" (o que seja a ser curioso, uma vez que Streep tem muito mais indicações - e vitórias! - a prêmios do que Close, que NUNCA chegou a ganhar o Oscar, apesar de seis vezes indicada).

Comentários tóxicos a parte, cada filme estrelado por Close gera interesse suficiente por conta de sua sólida carreira como atriz. E mesmo que o filme não seja lá essas coisas, nunca o será exclusivamente por culpa dela. O que nos leva a esse "A Esposa"...

Na trama, enquanto viaja para Estocolmo com o marido, que receberá o Prêmio Nobel de Literatura, Joan (Glenn Close) questiona suas escolhas de vida. Durante os 40 anos de casamento, ela sacrificou seu talento, sonhos e ambições, para apoiar o carismático Joe (Jonathan Pryce) e sua carreira literária.  Assediada por um jornalista (Christian Slater) ávido por escrever uma escandalosa biografia de Joe, agora Joan enfrentará o maior sacrifício de sua vida e alguns segredos há muito enterrados finalmente virão à tona.

Com uma narrativa irritantemente lenta e por demais arrastada, o roteiro de Jane Anderson - baseado no livro escrito por Meg Wolitzer - nos leva pacientemente a uma atmosfera de angústia contida por conta de uma grande dúvida, surgida pela indagação de um insistente jornalista: esse escritor, recém-ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, é mesmo merecedor de tamanha honra ou sua esposa fez muito mais do que apenas revisar seus escritos?

O que poderia render uma ótima história, aqui gerou um trabalho misto, em diversos momentos como uma peça teatral filmada e um filme repleto de diálogos pomposos, carregados de tons lamuriosos sobre o real trabalho de um escritor, o desgaste de uma relação afetada pela culpa e pela auto-indulgência, além, claro, de segredos que, talvez, não devessem ser revelados em hipótese alguma. Bom material para criar uma trama memorável há. Porém, o resultado é, infelizmente, de uma narrativa um tanto desconjuntada, resolvendo boa parte de seus problemas através de muitos flashbacks.

O que dizer sobre a atuação de Glenn Close que já não tenha sido mencionado em algum momento? Sua construção de personagem é precisa e nada afetada, conduzindo bem a trama, revelando, através de olhares, toda a insatisfação que sua personagem vem sofrendo ao longo dos anos - ainda que se recuse enxergar a si mesma como uma vítima sofredora. A interpretação de Close é o real destaque de "A Esposa" e o único motivo para continuar assistindo até a derradeira cena.

Sobre o restante do elenco, não há muito a destacar. Max Irons age como um adolescente mimado, mesmo que o ator aparente ter bem mais que 30 anos de idade -  e como é impressionantemente parecido com Matt LeBlanc no seriado "Friends", não dá pra não imaginar que é um papel que Joey Tribianni interpreta no filme (e não, isso não foi um elogio). Jonathan Pryce está qualquer nota como o escritor relapso mas laureado como se fosse o mais completo oposto disso. Sua personagem não oferece o mesmo enigma que a de Close e não causa empatia em momento algum. Já Christian Slater até é esforçado mas ele parece ser justamente um problema de escalação - a todo momento imagina-se que um ator veterano como Michael Keaton traria o brilho necessário à personagem...

Outro destaque é a direção de fotografia de Ulf Brantås oferece momentos interessantes, fora da normalidade de filmes do gênero, com diversas panorâmicas aéreas revelando uma belíssima Estocolmo - coberta de neve como açúcar no topo de um bolo caseiro - e closes inusitados para marcar as viradas da trama.

"A Esposa" é um filme que trata de um assunto caro às mulheres - ainda mais nos turbulentos dias atuais - mas de forma burocrática. Na melhor das hipóteses, é um filme feito para estudar relações humanas. Mas não vai muito longe, não...




Kal J. Moon escreve deveras bem e não se permite ser incomodado por sua governanta enquanto exerce seu ofício, bebendo chá de morangos silvestres adoçado por mel de abelhas africanas...