Escrito e dirigido por James Gunn, estrelado por Chris Pratt, Zoe Saldana, Pom Klementieff, Dave Bautista, Karen Gillan, Sean Gunn, Chukwudi Iwuji, Will Poulter e a dupla Bradley Cooper & Vin Diesel como as vozes originais de Rocket Racoon e Groot (respectivamente), "Guardiões da Galáxia Vol. 3" é o fim da trilogia mais autoral (para o bem e para o mal) dos mais improváveis heróis que o espaço sideral jamais presenciou...


Entre suturas, esparadrapos meio soltos e verdades necessárias
Quando a Marvel Studios anunciou o primeiro filme "Guardiões da Galáxia" - há quase dez anos! -, todo mundo se perguntou quem diabos eram esses caras - inclusive nós. Porém, mesmo sem ter personagens conhecidos do grande público, foi um imenso sucesso de crítica e bilheteria, agradando até mesmo quem não tinha afeição por filmes de super-heróis ou baseados em histórias em quadrinhos.

o segundo volume, apesar de bem sucedido na bilheteria, dividiu público e crítica - mesmo tendo as costumeiras e manjadas "piadas bestas" da lavra de Gunn, a trama tocava em assuntos sérios (e bem melancólicos) como legado e a importância da(s) figura(s) paterna(s). Entretanto, este terceiro e último exemplar sob o comando de Gunn, bem... Deve dividir opiniões novamente -  e fará a audiência pensar em temas profundos que, talvez, não esperariam ver num filme dessa franquia (ou qualquer outra baseada nos gibis da Casa das Ideias).

Na trama, após um destrutivo ataque do sintético super-ser Adam Warlock - a mando do déspota genocida Alto Evolucionário -, Rocket Racoon corre sério risco de vida, fazendo com que Senhor das Estrelas e sua equipe corra contra o tempo para encontrar uma senha que possa desativar o que está matando o pequeno roedor. Enquanto isso, Peter Quill ainda precisa resolver seus problemas com Gamora, evitar que o resto da tripulação se estrangule por conta de seus próprios dilemas e implicâncias, além de ter que salvar um planeta da mais completa extinção - e Rocket Racoon lembra de seu passado como cobaia... do vilão Alto Evolucionário.


Vale lembrar que a tão xingada Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel trouxe, ao menos, um vislumbre de tramas e temas que provavelmente não veríamos tão cedo nesse tipo de filme. O tema central da Fase 4 é... "luto" - goste você ou não. Milhões de pessoas se foram - inclusive alguns heróis e heroínas - de uma forma abrupta apenas para o bel prazer e capricho de um mercador da morte. Não abordar como os personagens lidaram com o que ocorreu - e, mesmo vencendo, TODOS perderam - seria, no mínimo, leviano. Mas a ~"torcida Marvel" acha que ainda há espaço para que se faça filmes exatamente iguais ao primeiro "Homem de Ferro", lá de 2008. Quem tinha 10 anos de idade em 2008, agora tem 25 - melhor nem comentar sobre quem já era adulto em 2008 - mas ainda quer ver filmes "engraçadinhos e coloridos" - pra ninguém passar vergonha desnecessariamente. Tudo tem limite - até o escárnio...

"Guardiões da Galáxia Vol. 3" também é um filme sobre luto (e um libelo contra maus tratos a animais). Luto de perdas de entes queridos (parentes ou não), perdas de relacionamentos (amorosos ou de amizades), perdas de fé (religiosa ou na ciência) e até mesmo perda de sanidade. Tudo isso embalado por muitos rocks depressivos - e alguns agitadinhos, pois ninguém é de ferro (de Radiohead e Heart a Faith No More, X e Florence + The Machine, dentre outros) -, visual acachapante e cenas de ação de tirar o fôlego. Mas com pouquíssimas cenas de humor debochado... Se está esperando aquele texto ~"engraçaralho" de Gunn e momentos constrangedores, voltados para a mais pura diversão - até tem, mas num número beeeeeem reduzido -, talvez esse filme não seja para você (ou, talvez, seja hora de considerar este filme para abrir seu leque de preferências cinematográficas. Permita-se).

Explicando melhor: Gunn perdeu seu próprio pai há três anos. Alguns de seus trabalhos mais recentes (os dois últimos filmes da saga "Guardiões da Galáxia" e o seriado "Pacificador") meio que refletiram a falta que o diretor sentia de seu genitor - não à toa, esse terceiro filme é dedicado a James Gunn, Sr. Gunn diz que seu pai não era bom com ele na infância mas isso mudou com o tempo, aceitando sua paixão por quadrinhos e dando-lhe apoio com sua carreira de cineasta - quando se tem noção desse fato, alguns questionamentos nestes roteiros fazem mais sentido do que na época em que estes filmes e série foram lançados... Escrever e filmar sobre isso talvez seja a terapia que Gunn precise, vai saber.


Na parte técnica, "Guardiões da Galáxia Vol. 3" é, praticamente, impecável. O design de produção comandado por Beth Mickle (de "O Esquadrão Suicida") - aliada à direção de arte da dupla Alan HookDavid Scott (e companhia) é funcional, com cenários em grandes escalas e bom trabalho de mistura de CGI com partes práticas. O visual desse filme é esmerado (perdendo, por pouco, apenas para o que foi realizado no segundo filme) e a direção de fotografia comandada por Henry Braham (também de "O Esquadrão Suicida") merece indicações a prêmios - principalmente por conta de um ÓTIMO plano-sequência -, ao menos para coroar o esforçado trabalho desta trilogia.

A trilha sonora original composta por John Murphy (do primeiro "Kick-Ass") é funcional mas nada marcante. Os efeitos especiais e visuais são muito bem executados, não sendo uma distração mas funcionando à favor da trama - e, em muitas vezes, passando totalmente desapercebidos. Os figurinos projetados por Judianna Makovsky (veterana de diversos filmes, de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" ao recente "Agente Oculto") são elegantes e exuberantes na medida certa, trazendo um senso de "realidade" àqueles mundos insanos saídos da mente incomum de Gunn.

Porém, mesmo com todos os elogios, "Guardiões da Galáxia Vol. 3" está longe de ser um filme perfeito - provavelmente, nem mesmo a imensa legião de fãs de Gunn vai comprar totalmente essa ideia. O principal vilão - o auto-intitulado Alto Evolucionário (interpretado por Chukwudi Iwuji) - é, como já enunciado, um (outro) déspota genocida. Cruel e sanguinário, mas nada estrategista - Lex Luthor do cinema, é você?! -, não tem um plano muito elaborado para alcançar seus objetivos - além de ser um personagem desequilibrado em matéria de tom (e isso nem é culpa do ator, esforçado, mas sim do roteiro e do diretor). Outro desfavorecido por escolhas de roteiro é Adam Warlock (interpretado por Will Poulter) - celebrada surpresa no passado, aqui totalmente descaracterizado em relação à sua contraparte nos quadrinhos, parece uma espécie de promessa para algo vindouro em vez de um personagem real (novamente, a culpa não é do ator por receber um papel bobalhão desses - para dizer o mínimo). Aquele "fodão" dos quadrinhos ainda deve aparecer no cinema, mas hoje não é esse dia e aqui não é o lugar... O restante do elenco está operante, mas sem grandes destaques.


O roteiro ainda traz outros problemas - ou restrições vindas do estúdio? - como chegar a quase deixar alguns personagens morrer (TRÊS-F****G-VEZES) mas adiar em momentos oportunos (sim, alguns personagens morrem nesta história mas ninguém que a audiência realmente sentirá falta). A demasiada duração - mais de duas horas e meia - tornou o filme um tanto arrastado em alguns momentos, até cansativo, com nada muito importante acontecendo (parece mais aquela desculpa de "desenvolver os personagens"). E também um encerramento "feliz" e festivo (em termos, pois tá todo mundo meio "zoado das ideias" depois dessa exaustiva aventura) parece algo imposto e não orgânico da trama.

Sim, é um encerramento para ESTA equipe mas o roteiro abre possibilidades para OUTRAS possíveis formações num futuro incerto (isso foi um real acerto). Gunn não vai mais participar de quaisquer outras iniciativas envolvendo estes personagens pois, desde outubro de 2022, assumiu o cargo de supervisão geral da DC Films - inclusive, escreveu e dirigirá "Superman - Legacy", vindouro filme do Homem de Aço - que estreia em 11/07/2025 (data de aniversário de seu pai). E, mesmo com todos os problemas - e com todo o monte de verdades praticamente vociferadas à audiência -, Gunn consegue amarrar TODAS as pontas soltas entre os filmes - e até mesmo aquele desnecessário Especial de Natal -, fazendo desta a mais coesa trilogia de filmes da Casa das Ideias (ao lado dos filmes do Homem-Formiga, claro). Poderia ter trazido Steven Tyler para uma participação especial? Poderia. Mas nem tudo é como a gente gostaria...

Mesmo longe da almejada perfeição - repita o mantra: "não existe filme perfeito" -, "Guardiões da Galáxia Vol. 3" entrega reflexão e entretenimento, mostrando que tanto personagens e cineastas podem evoluir de vez em quando (mas baixe essa expectativa aí...). Assista, reflita, analise, debata, questione, respire fundo e tire suas próprias conclusões. Vai te fazer bem...

(sim, o filme tem duas cenas pós-créditos: uma mostrando o que o futuro reserva à equipe e outra focando no destino de um dos personagens)




Kal J. Moon estrela o último filme de sua trilogia, mas descobriu recentemente que não é o protagonista dessa história...

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