Dirigido por Angel Manuel Soto, estrelado por Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Susan Sarandon, Belissa Escobedo, George Lopez, Adriana Barraza, Elpidia Carillo, Damián AlcázarHarvey Guillen, o filme "Besouro Azul" traz fortes doses de "tempero latino" ao universo cinematográfico de super-heróis da DC Comics. Mas o quanto isso é bom? Entonces...


Certo agora, errado antes...?
Antes de começar, temos de lembrar a quem não acompanha notícias sobre os filmes baseados nos personagens da DC Comics que "Besouro Azul" seria, originalmente, um filme que estrearia direto no catálogo da plataforma paga de streaming HBO Max. Porém, a cúpula da Warner Bros à época decidiu lançar o filme mundialmente nas salas de cinema. Tendo isso em mente, temos informações suficientes para entender se essas decisões foram ou não favoráveis à obra que está em cartaz atualmente...

Na trama, o recém-formado Jaime Reyes volta para casa cheio de expectativas para o futuro, mas logo descobre que seu lar não é mais o mesmo. Enquanto tenta encontrar seu propósito no mundo, o destino intervém e faz chegar às mãos de Jaime uma antiga relíquia da biotecnologia alienígena conhecida como "Escaravelho". Quando o Escaravelho "escolhe" Jaime como seu hospedeiro simbiótico, sua vida muda para sempre. Ele ganha uma incrível armadura que lhe dá poderes extraordinários e se torna o improvável super-herói Besouro Azul

O roteiro escrito por Gareth Dunnet-Alcocer (do obscuro "Miss Bala" e do vindouro - e sabe-se lá se esse filme vai sair - "El Muerto", baseado em quadrinhos da Marvel Comics) é meio que uma espécie de "bingo" de situações envolvendo latinos no audiovisual mundial. A família de Jaime está há três meses devendo o aluguel e pode ser expulsa de onde moram a qualquer momento? Si! O tio de Jaime tem uma caminhonete pick-up e a buzina é "La Cucaracha"? Si! Personagens norte-americanos nem se esforçam para dizer os nomes dos personagens latinos corretamente? Si (mais de uma vez, aliás)! Personagens mais idosos são flagrados assistindo telenovelas mexicanas (e até fazem uma ótima piada com Jaime, comparando-o a uma das protagonistas dessas novelas)? Si! A vilã da história é multimilionária e usa roupa branca e óculos escuros? Si! A avó de Jaime faz questão de benzê-lo no meio da rua quando ele está prestes a entrar num local para procurar emprego? Si! E por aí, vai...

(Isso sem falar do fato que o roteiro literalmente ignora a destruição causada pelo super-herói durante sua descoberta de poderes, onde o telhado da casa fica esburacado e a família nada faz pra resolver, ou um ônibus é literalmente partido ao meio e nem sequer há menção num telejornal, dentre outras cenas pela cidade que parece estar vazia nos momentos mais convenientes)


Porém, por trás desse produto audiovisual facilmente reconhecível pelos brasileiros, existe algo realmente genuíno - ainda que sob um verniz que beire a caricatura. Há um desejo de acertar e trazer a tal da representatividade que tanto se fala hoje em dia. Em meio a um equilíbrio de piadas e situações vexaminosas, há uma preocupação em mostrar como os imigrantes latinos são tratados por quem detém o poder e o dinheiro nos Estados Unidos. Ainda que de uma forma nada sutil - porém apenas arranhando a superfície de uma dramaticidade -, existe um passado onde os personagens precisaram lutar numa guerrilha e se tornarem refugiados de sua pátria, algo que o roteiro mescla orgulho e um certo azedume de rancor. Entretanto, ainda estamos falando de um filme de orçamento mediano que precisou ter alguns cortes e ajustes para ser lançado nas salas de cinema, certo?

E provavelmente ESSE é o real problema de "Besouro Azul". Como "longa-metragem que deu origem à série" - também conhecido como "episódio piloto" - funciona razoavelmente a contento. Já como filme para cinema - com reais intenções de ganhar alguma continuidade no Universo Cinematográfico DC...? Bem, bate na trave. É um filme ultra básico de origem de super-herói que não traz nada de novo, além da tal "latinidad", com uma ou outra cena que poderia ser melhor explorada para aprofundar pelo menos uns dois personagens e trazer a tal diferenciação entre outros produtos audiovisuais desse sub-gênero.

Quanto à direção de Angel Manuel Soto (oriundo dos curtas-metragens e da recente minissérie documental "Menudo - Sempre Jovens")... Como essa é uma produção de escopo bem menor que um blockbuster do nível de um "The Flash", por exemplo, Soto faz o que pode. Buscando referência no próprio "cinema de super-heróis", o cineasta emula diversas cenas do primeiro "Homem de Ferro" (2008) ou das várias versões cinematográficas do Homem-Aranha - com uma pitada da representatividade do primeiro "Pantera Negra" (2018). Equilibra bem os momentos dramáticos e cômicos, deixando o elenco confortável e tal, mas não arranca "aquela" interpretação que poderia ser o tempero ideal para que esse filme soasse um tiquinho mais autêntico.


Quer dizer, exceto quando falamos de Xolo Maridueña, que agarra o protagonismo - ou parte dele - ferrenhamente, como se fosse sua grande chance, entregando um trabalho correto e acima da média, mas nada excepcional. O mesmo pode ser dito da brasileira Bruna Marquezine, que está operante e não é apenas interesse amoroso do herói mas, como não é reconhecida como grande atriz nem aqui em terras auriverdes (e, sejamos sinceros, ela não recebeu nada que a desafiasse na profissão)... O roteiro até traz dois momentos mais dramáticos e ela corresponde na medida do possível pois não são lá tããããããããão elaborados para entregar mais do que a atriz realiza ali.

Dentre o elenco, talvez quem compartilhe momentos dramáticos dignos de nota sejam Damián Alcázar - que interpreta o pai de Jaime - e, inesperadamente, Harvey Guillen - que traz à vida o vilão Carapax, a princípio apenas um mero capataz da também vilã Victoria Kord, mas que o roteiro lhe reserva um passado com uma interessante virada de roteiro, trazendo-lhe um desenvolvimento maior, que pode ser constatado em sua atuação no terço final.

Já o restante do elenco equilibra bem drama e comédia mas não há quem se destaque - nem mesmo a experiente Susan Sarandon -, mostrando que o roteiro colocou os personagens numa situação tão absurda que a solução foi apenas embarcar e, se der, divertir-se no processo.


O figurino assinado por Mayes C. Rubeo (indicada ao Oscar por seu trabalho em "Jojo Rabbit") é eficaz e funcional, adaptando visualmente bem o personagem criado para os quadrinhos por Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner. Os efeitos especiais capitaneados por Paul Corbould (dos recentes "Homem-Formiga e a Vespa - Quantumania" e "Agente Stone") são, talvez, os melhores vistos num filme DC desde "Adão Negro" e desempenham bem o papel de gerar o "inacreditável". Já a trilha sonora composta por Bobby Krlic - também conhecido como The Haxan Cloak, do recente "Beau Tem Medo" - passa desapercebida de tão genérica (embora a escolha de obras incomuns de bandas latinas - como a excelente canção protopunk "Demolicion", de Los Saicos - tragam pelo menos um pouco do tal diferencial que tanto foi dito nesta crítica).

"Besouro Azul" não é o melhor filme de super-heróis de todos os tempos - e nem precisa ser - mas tem alguns probleminhas que só passam batido se o que a audiência estiver procurando for uma frívola diversão de fim de semana no shopping com amigos ou na companhia daquela paquera esperta. Poderia ser melhor? Sim, claro. Mas não, não é melhor, nem pior - e nem diferente também. Porém é o que tem pra hoje. Acompanha fritas?

(Atenção: o filme tem DUAS cenas pós-créditos. A primeira revela o possível paradeiro de um querido personagem da DC Comics - e que pode ser o foco do roteiro de um segundo filme. Já a segunda é uma animação estilo stop-motion - porém digital - que mostra o clipe completo de uma homenagem feita brevemente durante a trama a um grande super-herói da TV mexicana, que também faz grande sucesso no Brasil há quase 40 anos) 




Kal J. Moon pula mais alto que uma casa, haja visto que casas não pulam...

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