Dirigido por James Wan, estrelado por Jason Momoa, Patrick Wilson, Yahya Abdul-Mateen II, Randall Park - com participações especiais de Amber Heard, Nicole KidmanDolph Lundgren e Temuera Morrison -, o filme "Aquaman 2 - O Reino Perdido" surpreende por se desvencilhar das propostas dos atuais filmes de super-heróis e buscar inspiração em clássicos do cinema (e, olha só, também em filmes Marvel)...


Galhofa para viagem, senhor?
Na primeira cena de "Aquaman 2 - O Reino Perdido", vemos nosso herói enfrentando piratas modernos (sério) durante uma tempestade, distribuindo sopapos e pontapés à mil por hora enquanto faz pose de machão. Corta. Agora, nosso herói está brincando com dois bonecos em frente a seu filho recém-nascido, contando como enchia aqueles piratas de porrada enquanto o infante ri sem nada entender. Corta. Volta à cena de pancadaria desenfreada, cheia de poses "macho-chô", caras e bocas. Esse é o recado (nada sutil) de James Wan, logo no início da exibição, de que esse filme é estritamente voltado para o público infantil - no máximo, forçando um pouco a barra, para pré-adolescentes. E, acredite, isso não é um problema. Muito pelo contrário...

Na trama, agora mais temível do que nunca, o super-vilão Arraia Negra detém o poder do mítico artefato Tridente Negro, imbuído de uma ancestral força malévola, pronto par perpetrar sua vingança pela morte de seu pai. Para derrotá-lo, Aquaman tem de pedir ajuda a seu irmão Orm - ex-Rei de Atlântida, ainda na prisão - para forjar uma aliança improvável, deixando de lado suas diferenças para proteger seu reino, salvar a família de Aquaman e o mundo inteiro da irreversível destruição.

Por essa sinopse, não dá para esperar que um filme desses tenha algum nível de profundidade que possa mudar a História do Cinema mundial como o conhecemos. Trata-se somente de uma diversão descompromissada, feita para um público mais jovem e que não vai querer comparar possíveis inspirações em diversas fases dos personagens das histórias em quadrinhos criados pela dupla Paul Norris e Mort Weisinger para a DC.

Assim como em "Homem-Formiga e a Vespa - Quantumania", as inspirações vão desde às sagas "Star Wars" (ângulos de cena, batalhas entre veículos e até mesmo uma cena musical, com direito a visuais "muito parecidos" de personagens), "Indiana Jones" (a resolução de uma cena específica), "O Senhor dos Anéis" (a real ameaça da trama), "Star Trek" (o ~"escritório central" do vilão lembra bastante as pontes de comando das diversas versões da Enterprise) e até mesmo "James Bond" (um esconderijo numa ilha com um vulcão, asseclas mil obedecendo um vilão como soldados sem ser explicado porque, no mundo atual, alguém participaria de algo do gênero sem ser muito bem pago...).

(a impressão que dá, em dado momento, é que Wan tava mandando recado para os detentores dos direitos dessas franquias, como quem diz "ó, tamos aí, se precisar de qualquer coisa...")


Mas o que impressiona é que Wan parece ter estudado bem de perto os primeiros filmes do Universo Cinematográfico Marvel para direcionar esse aqui pois a dinâmica entre Aquaman e seu irmão Orm lembra BASTANTE a de Thor e Loki em filmes como os injustiçados "Thor - O Mundo Sombrio" e "Thor - Ragnarok" - além de algum senso de comunidade que parece ter vindo de "Pantera Negra" e "Pantera Negra - Wakanda Para Sempre".

Resumindo de forma bem didática: "Aquaman 2 - O Reino Perdido" é um filme do Thor que teria feito bastante sucesso se lançado há uns dez anos. É aquele típico filme ~"bobo" que não se envergonha disso e se aproveita de sua simplicidade para mostrar o que pode fazer de melhor - se o próprio filme não está se levando tão a sério assim, por que você deveria? A ordem do dia é relaxar e aproveitar...

Embora o roteiro escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick (do primeiro filme "Aquaman" e também de "A Órfã", dentre outros) seja bem básico no quesito evolução (vilão descobre artefato que pode fazê-lo derrotar o herói / herói descobre e pede ajuda a seu arqui-inimigo - na base do "o inimigo do meu inimigo..." / união improvável / piadas simplistas / ação e aventura / algum momento de terror / algum suspense / vilão derrotado / mensagem final de esperança / moral da história), temos de novamente lembrar que se trata de um filme infantil, voltado para quem não conhece esses personagens - e também pensando em quem não tem nenhum filme para assistir nos feriados de fim de ano, período onde não há aulas e estreias direcionadas a esse tipo de público são praticamente escassas nesta época do ano...

A direção de James Wan é precisa. Wan tem total domínio de seu mister. Consegue equilibrar bem cenas muito bem construídas de ação, senso de aventura (e urgência), além de tomadas impressionantes visualmente falando - ok, algumas cenas em CGI são um pouco mal construídas ou faltaram um cuidado maior mas Wan compensa com uma mistura entre efeitos práticos, maquiagem bem projetada e ótimo escopo de cena...

Um destaque positivo a ser mencionado é para o design de produção comandado pela dupla Sahby Mehalla & Bill Brzeski - aliada à direção de arte de Nic Pallace - em que cada maquinário em cena tem componentes críveis, mesmo sendo algo impossível de existir na vida real. Não será algo espantoso se esse trabalho for reconhecido nas premiações do ano que vem...


Outro merecido destaque vai para a trilha sonora original composta por Rupert Gregson-Williams (também do primeiro "Aquaman" e, anteriormente, de "Mulher-Maravilha"), que traz toda aquela vibe de "Sessão Aventura" que um filme desses necessita e pontuar bem, musicalmente falando, os momentos cômicos de forma adequada.

Embora ninguém no elenco seja digno de premiação justamente por conta da natureza da trama, vale destacar o trabalho de composição e interpretação de Patrick Wilson como Orm. O ator traz algum senso de "nobreza" e "dignidade" ao personagem - e, estranhamente, seu visual lembra MUITO o da versão clássica de Aquaman, desenhado por Nick Cardy (pode pesquisar que eu deixo). O restante do elenco está operante, embora haja uma cena realmente emocionante para alguns personagens, principalmente quando há um perigo iminente...

Vale destacar também a belíssima composição da direção de fotografia comandada por Don Burgess (também do primeiro "Aquaman" e indicado ao Oscar por seu trabalho no clássico "Forrest Gump"), que traz cenas belíssimas em momentos de heroísmo puro e simples, angústia e suspense em momentos de tensão, mesmo sendo hiper-colorido mas nunca de forma demasiada.


"Aquaman 2 - O Reino Perdido" é, sim, o último filme do infame Universo Cinematográfico DC, teve um monte de gente metendo o bedelho e diversos problemas de bastidores (como refilmagens, mudanças de datas de estreia e reescritas de roteiro - uma das versões contava com participação especial de Ben Affleck!) porém, no frigir dos ovos, é aquela improvável desventura com importantes mensagens sobre a preservação do planeta e a necessidade de se perdoar a quem nos magoou no passado - mas que, infelizmente, nem todo mundo terá paciência para embarcar pois deixaram a inocência infantil de lado para execrar tudo o que é diferente em termos de narrativa. Dolph Lundgreen estava certo quando disse que "esse é melhor".

Fala sério: o que você estava esperando de "Aquaman 2 - O Reino Perdido"? Deixe a opinião desse monte de idosos reclamões "vomitadores-de-regra" de lado, baixe a expectativa, permita-se e assista no cinema - mas naquele dia de promoção, em caso de dúvida...




Kal J. Moon não acha que Aquaman salvou o clima do planeta no final das contas pois ainda está um calor desgraçado no Rio de Janeiro...


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