Cansado das mesmas comédias "inteligentonas" que prometem discutir temas "importantes", mas que não têm graça alguma? Não aguenta mais besteiróis adolescentes que só querem agradar à "moçadinha"? Seus problemas podem estar perto do fim! A sitcom "That '90s Show" é uma das novidades do gênero para 2023 dando sequência à cultuada "That '70s Show" nos levando de volta ao lar do excêntrico casal Red e Kitty Forman.

A*M*I*G*O*S
Já há algum tempo o sentimento de nostalgia tomou os corações de boa parte da população ocidental e com certeza a indústria do entretenimento vem sabendo explorar (praticamente em todos os sentidos) isso muito bem. Produções como "Caça-Fantasmas - Mais Além", "Bel-Air" e "Mestres do Universo: Salvando Etérnia" são apenas exemplos recentes. É uma ideia tão difundida que chega ao ponto de atingir até mesmo quem nem é nascido há tempo o bastante para ter vivido a época das produções originais ou para tê-las apreciado ainda que em reprises. É realmente um mercado muito lucrativo e prolífico que já rompeu a barreira do bom senso.

Mas se engana quem pensa se tratar de um fenômeno recente. Já na década de 1990 a série "Anos Incríveis" fez muito sucesso com seu protagonista Kevin Arnold narrando suas memórias de infância e adolescência vívidos durante os anos 1960 e 1970. Na esteira desse sucesso e de sitcoms protagonizadas por amigos inseparáveis (como "Seinfeld" e "Friends") foi criada "That '70s Show" em 1998 por Mark Brazill, Bonnie Turner e Terry Turner.

Na série vemos o já citado casal Red (Kurtwood Smith, de "Chamas da Vingança") e Kitty (Debra Jo Rupp, de "WandaVision") lidando com a vida de adolescente do filho Erick (Topher Grace, de "Infiltrado na Klan") acompanhado de seus amigos Michael (Ashton Kutcher, do recente "Na Sua Casa ou na Minha?"), Jackie (Mila Kunis, de "Uma Garota de Muita Sorte"), Donna (Laura Prepon, de "Orange Is the New Black"), Hyde (Danny Masterson, de "O Rancho") e Fez (Wilmer Valderrama, de "NCIS: Investigações Criminais").

A obra presta sua homenagem à marcante década de 1970 fazendo muita graça com os costumes daquela época. Teve seu público, não só entre quem viveu o período representado na série, mas também quem procurava por outras sitcoms para se divertir mais. Entretanto não alcançou o mesmo patamar de outros ícones do gênero.

Agora seguindo a onda de revivals, seus criadores voltam a Point Place mostrando as peripécias de uma turminha do barulho aprontando altas confusões. Desta vez acompanhamos Leia (Callie Haverda, de "O Marido Perdido"), filha de Erick, que durante uma visita aos avós para as comemorações do feriado de 4 de Julho decide passar as férias de verão na casa em que o pai cresceu.

Junta-se à ela um grupo de típicos jovens dos anos 1990: a rebelde e ousada Gwen (Ashley Aufderheide, de "Despedida em Grande Estilo") , seu meio irmão Nate (Maxwell Acee Donovan, de "Gabby Duran: Babá de Aliens") como o esportista nada inteligente, o ácido e cínico Ozzie (Reyn Doi, de "Side Hustle: Uma Tarefa Complicada"), a descolada e sexy namorada de Nate Nikki (Sam Morelos, do curta "Forgetting Nobody", estrando em grandes produções) e Jay (Mace Coronel, de "Colin em Preto e Branco"), o galã pegador e filho de Michael e Jackie.

Como não poderia deixar de ser em uma produção como esta, além da presença de Smith e Rupp em todos os episódios, ocorrem várias participações de membros do elenco original, como Grace e Prepon, uma vez que agora é a filha do casal quem protagoniza o programa. Além disso, não poderiam faltar citações e referências bem diretas aos sucessos da época como "Barrados no Baile" e a já citada "Friends".

Além disso, é óbvio que todas as dúvidas e aflições da adolescência são discorridos de forma bem divertida ao longo da narrativa. E por mais que haja diferenças entre as gerações, um dos slogans da série é "Os tempos mudam. Adolescentes não". E talvez esse seja o motivo de seu sucesso, já que, mesmo com críticas domésticas negativas, uma segunda temporada já foi confirmada - o que mostra que o público mais jovem pode ter se identificado com os dramas e conflitos que os jovens de qualquer época enfrentam, não importa que tipo de entretenimento ou tecnologia esteja à disposição.

Falando nas críticas negativas, é curioso que várias citem que a produção seria uma espécie de caça-niqueis visando apenas ao lucro fácil com uma franquia já estabelecida por parte da plataforma paga de streaming Netflix. Mas não se trata justamente de um produto da indústria do entretenimento de um país reconhecidamente capitalista? Inclusive as franquias mais aclamadas da cultura pop se consolidaram exatamente como produtos extremamente lucrativos, haja visto exemplos como "Star Wars" que é inclusive fonte de inspiração para ambas as séries, pois Erick é tão obcecado pela criação de George Lucas que foi capaz de batizar a filha com o nome da personagem de Carrie Fisher. Essas alegações parecem mais uma desculpa para tentar depreciar a produção na falta de defeitos realmente preocupantes.

Aliás, um dos pontos altos é a incrível química do elenco, não apenas entre os jovens, mas também com os veteranos. O fato de que o tempo cronológico da série seja próximo ao da vida real dá o devido distanciamento para que vejamos Red e Kitty se adaptando ao fato de voltarem a lidar com adolescentes depois de mais de 15 anos, praticamente o mesmo tempo entre o fim da antiga série e o início da atual. E claro que o casal Forman é uma atração à parte porque além de terem que se acostumarem com a rotina de conviverem com a neta e seus amigos, também trazem sua cota de dramas conflitos, seja por causa da idade ou por precisarem interagir com os vizinhos, principalmente a incomum Sherri (Andrea Anders, de "Young Sheldon"), mãe de Gwen e Nate.

Outro ponto positivo é o fato de que o núcleo adolescente não é composto por atores adultos, o que geralmente é apontado como um problema em filmes e séries com personagens nessa faixa etária. Atualmente a idade dos atores é em torno dos 17 anos, o que não os deixa muito longe de seus personagens. E mesmo com pouca idade, apenas Sam Morelos não tem um extenso currículo. Mesmo assim ela entrega uma atuação convincente e de qualidade assim como os demais.

Mas o que então haveria de errado que pudesse comprometer uma promissora trajetória de sucesso? Nada muito grave, porém a série começa com um ritmo frenético de humor em seu primeiro episódio e apresenta uma notável queda já a partir do segundo. É claro que uma produção de comédia não precisa ser extremamente engraçada e fazer rir o tempo todo, entretanto essa perceptível diferença pode frustrar a expectativa de parte da audiência que depois de ser instigada por um primeiro capítulo tão interessante, possa pensar que a atração tenha ficado entediante. Não é para tanto, mas em tempos nos quais o público "devora" sua "nova série favorita" em apenas alguns dias (ou até mesmo em algumas horas), é uma escolha arriscada de abordagem narrativa que deve ser repensada para próximas temporadas.

Com certeza "That '90s Show" é uma agradável novidade para esta temporada, principalmente para quem aprecia o gênero. Se vai ser um grande sucesso entrando para o rol de sitcoms que marcaram época superando até mesmo sua antecessora, é esperar para ver, pois a já anunciada segunda temporada mostra que tem potencial para isso. Basta receber do público a chance que merece.



Antonio Carlos Lemos foi adolescente nos anos 1990 e por isso pode atestar "de poltrona" a qualidade da série.

Em todo o site, deixamos banners de sugestões de compra geek, mas você pode nos ajudar fazendo uma busca através destes links, e deste modo poderemos continuar informando sobre o Universo Nerd sem clickbaits, com fontes confiáveis e mantendo nosso poder nerd maior que 8.000. Afinal, como você, nós do portal Poltrona POP já éramos nerds antes disso ser legal!