Dirigido por J.C. Chandor, estrelado por Aaron Taylor-Johnson, Russell Crowe, Alessandro Nivola, Christopher Abbott, a vencedora do Oscar Ariana DeBose e grande elenco, o filme "Kraven - O Caçador" é mais uma tentativa da Sony Pictures de emplacar seu "Aranhaverso live-action". Mas é necessário? Bem...


Adaptação x trangressão x ah, sei lá, que se fØd@!
O sub-gênero de filmes de ação se divide em duas categorias bem distintas. Temos o "blockbuster", aquele tipo de filme estrelado por um grande astro ou estrela, com história minimamente coerente e boas cenas de tiroteio, lutas bem coreografadas e uma chance de virar continuação, gerando uma nova franquia em alguns anos.

E há também a grande safra de "filmes B" de ação, com atores ou atrizes mais ou menos conhecidos (advindos da TV ou mesmo do cinema, mas que ainda não alçaram ao posto de grande astro ou estrela), cenas satisfatórias de ação e, alguns exemplares até têm tramas melhores resolvidas que os "blockbusters", uma vez que não se há muito dinheiro para gastar em explosões, efeitos especiais ou participações especiais de luxo para encarnar o vilão.

Em ambas as categorias, é mister que haja um elemento básico: entretenimento satisfatório. Nos primeiros dez minutos de rodagem, é necessário que a audiência "compre a ideia". Se isso não ocorrer, dificilmente será um filme de sucesso. "Kraven - O Caçador" tem orçamento de "blockbuster" e deveria ter alma de "filme B de ação". Mas não consegue ser nenhum dos dois. É algo bem pior: um filme sem propósito.


Na trama, Sergei Kravinov sofre um ataque de um leão raivoso e é salvo pela poção milagrosa de uma jovem. A partir de então, deixa os domínios de seu pai criminoso e descobre poderes sobre-humanos, decidindo usá-los para caçar pessoas envolvidas com maus tratos a animais, usando o codinome "Kraven - O Caçador". Até que um inimigo do passado de seu pai - que também teve uma modificação com o passar dos anos - resolve caçá-lo (e a seu irmão indefeso) para se vingar...

Quem conhece o personagem original criado por Stan Lee (1922-2018) e Steve Ditko (1927-2018) para a revista do Homem-Aranha em 1964 sabe que trata-se de uma invenção demasiadamente unidimensional, feita apenas para servir como mais um daqueles vilões baseados em animais do Amigão da Vizinhança - sim, com o passar dos anos, fãs da nona arte puderam contemplar tramas com objetivos melhores do que "Homem-Aranha é o troféu mais valioso a ser conquistado".


Portanto, a adaptação para o cinema precisaria passar por alguma diferenciação de seu material original para que funcionasse para o público que não consome histórias em quadrinhos. Mas o que os roteiristas Richard Wenk, Art Marcum e Matt Holloway fizeram em "Kraven - O Caçador" é de corar o mais novato aluno de aulas de escrita para cinema.  

E não, não há como culpar o diretor J.C. Chandor (de filmes como "O Ano Mais Violento" e do recente "Operação Fronteira") pela pataquada que é vista em cena pois existe um mínimo esforço em tornar algumas decisões de roteiro um tanto críveis, como a relação entre os irmãos SergeiDmitri (transformar este último no vilão Camaleão - que nos quadrinhos é um dos primeiros aliados de Kraven, sem parentesco, e responsável por convidá-lo a integrar a primeira formação do super-grupo de vilões Sexteto Sinistro - foi uma ideia interessante mas mal executada). Mesmo com algumas cenas de ação bem realizadas (e bem fotografadas, mérito de Ben Davis, que trabalhou em filmes distintos como "Os Banshees de Inisherin" e "Eternos"), apesar de "bem feitinhas", se perdem frente ao monte de problemas que o roteiro possui.


Quanto ao elenco, não adianta perguntar o que a dupla vencedora do Oscar Russell Crowe e Ariana DeBose estão fazendo num filme com papeis tão insignificantes... A resposta é a pergunta que Peter Parker sempre ouvia: "Aluguel?". O restante ou está operante (como Fred Hechinger) ou está insuportavelmente caricato (como Alessandro NivolaChristopher Abbott). Mas, voltando à questão: difícil tirar "leite de pedra" com o roteiro que receberam...

Mesmo que, há mais de uma década, exista a intenção da Sony Pictures de, quem sabe, algum dia, produzir um filme do Sexteto Sinistro (para quem não sabe, desde a época em que Andrew Garfield interpretou o Cabeça-de-Teia em dois filmes), essa quantidade absurda (e desnecessária) de filmes de vilões do Homem-Aranha que não tem necessariamente alguma conexão concreta entre si (ok, a cena pós-créditos de "Morbius" até tentou estabelecer uma pequena ligação com "Vingadores - Guerra Infinita" e "Homem-Aranha - De Volta ao Lar" - porém sem qualquer consequência para esse "universo", uma vez que não existe plano de continuação para aquele filme) não está criando interesse no público em acompanhar o próximo movimento dessa narrativa para chegar à reunião desses "Vingadores Reversos". Agora, se o real objetivo é ter filmes relativamente baratos de serem produzidos que possam ver vendidos posteriormente para plataformas de streaming, isso é uma tramoia que nem o maior vilão da Marvel poderia imaginar...


"Kraven - O Caçador" não tem predicados. Seu protagonista mal aparece em tela (o filme tem duração de pouco mais de duas horas e Aaron Taylor-Johnson - cheio de caras, bocas e poses másculas - talvez não esteja em cena por nem uma hora sequer), com um monte de personagem coadjuvante completamente esquecível e uma conclusão que não serve nem como fan-service (apesar de o ser em sua essência). E não é pior que "Madame Teia" por muito, muito pouco.

Resumindo: não gaste seu dinheiro com o caro preço do ingresso dos cinemas. Nem perca seu tempo vendo isso em streaming. A vida é curta...




Kal J. Moon lembra de uma promoção de uma rádio carioca, promovendo a inclusão do cantor e compositor Serguei (1933-2018), em que o ouvinte tinha de ligar para lá e dizer "Eu quero Serguei no Rock in Rio!". (Ah, fala a verdade: você riu...)


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