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CRÍTICA [CINEMA] | "Capitão América: Admirável Mundo Novo", por Marlo George

Capitão América: Admirável Mundo Novo é o novo longa-metragem da Marvel Studios que chegou aos cinemas de todo o mundo no início deste ano. Este é o quarto filme dedicado ao herói patriota da Casa das Ideias e o primeiro a ser protagonizado por Anthony Mackie, desde que sua personagem, Sam Wilson, herdou o escudo de Steve Rogers, interpretado por Chris Evans, na série da Disney+, Falcão e o Soldado Invernal.

Do Título Polêmico à Produção Conturbada, uma Reflexão Sobre os Bastidores do Filme
O filme teve seu anúncio oficial em agosto de 2021, e o título Capitão América: Nova Ordem Mundial foi divulgado na San Diego Comic-Con de 2022, com grande expectativa dos fãs. No entanto, em um movimento surpreendente, a Marvel Studios anunciou a mudança do título para Capitão América: Admirável Mundo Novo em junho de 2023, através de sua conta oficial na plataforma X (anteriormente conhecida como Twitter). A mudança deixou os fãs curiosos sobre as novas direções que a trama poderia tomar.

A falta de explicação oficial da Marvel sobre a mudança de título levanta a hipótese de que a alteração visava evitar polêmicas políticas, já que a expressão "Nova Ordem Mundial" remete à organização do Caveira Vermelha nos quadrinhos e a teorias da conspiração no mundo real que evocam o fim da Guerra Fria. Acredito que a mudança tenha ocorrido para prevenir discussões sobre geopolítica. Já o subtítulo "Admirável Mundo Novo" sugere outra temática, que eu esperava seria inspirada na obra literária de Aldous Huxley, que explora uma sociedade distópica controlada por tecnologia e condicionamento social.

No entanto, nenhuma referência política, dos quadrinhos ou literária foi utilizada na trama final de Capitão América: Admirável Mundo Novo. O roteiro, originalmente de Malcolm Spellman e Dalan Musson, foi reescrito por eles, Rob Edwards, Peter Glanz e Julius Onah, resultando em uma história "remendada" e genérica. Eventos recentes, como a reeleição de uma figura política controversa ao governo dos EUA, Donald Trump, o descontentamento de parte considerável da população com certas políticas identitárias, como ações afirmativas tocadas por departamentos de DEI (diversidade, equidade e inclusão), e a insatisfação dos fãs do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) com produções recentes, como o filme As Marvels e a minissérie Invasão Secreta, ambas de 2023, podem ter motivado tais mudanças.

Outro indício de que a trama de Capitão América: Admirável Mundo Novo passou por alterações significativas é o fato de que o longa-metragem passou por refilmagens - e possíveis adições de cenas - em meados do ano passado. Essas refilmagens incluíram a participação do aclamado ator Giancarlo Esposito, levantando especulações se sua participação seria uma tentativa de desviar a atenção do público de possíveis deficiências na trama ou em outros aspectos do filme. A inclusão de Esposito em um momento tardio da produção sugere que seu personagem pode ter sido adicionado ou expandido durante as refilmagens. Essa prática é comum em filmes de grande orçamento, nos quais os produtores buscam aprimorar a história ou corrigir problemas identificados durante as filmagens originais.

Afinal, a presença de um nome conhecido pode gerar mais interesse e expectativa em torno do filme, mesmo que sua participação na história seja, como foi, relativamente pequena. O diretor Julius Onah recentemente minimizou as refilmagens de Capitão América: Admirável Mundo Novo, afirmando que se tratava apenas de "um período de fotografia adicional", algo comum em filmes do MCU. No entanto, considerando as diversas mudanças no roteiro, a contratação de novos roteiristas e a adição de Giancarlo Esposito ao elenco, é compreensível que haja desconfiança em relação a essa declaração.


As refilmagens podem ser vistas como uma ferramenta para aprimorar aspectos técnicos, narrativos ou visuais de um filme. No entanto, em algumas situações, as refilmagens acabam sendo utilizadas para corrigir problemas mais profundos na trama ou para adaptar a história a novas demandas do mercado ou da opinião pública. Diante desse contexto, Capitão América: Admirável Mundo Novo pode ser analisado como um estudo de caso sobre a influência da política e da opinião pública na cultura POP, bem como sobre a utilização de refilmagens como um método para "consertar" produções cinematográficas.


Do Elenco Fraco ao Trabalho de Produção Capenga: A Receita do Desastre
A trama confusa de Capitão América: Admirável Mundo Novo é agravada por um elenco mal dirigido, que não consegue adicionar nenhuma profundidade artística à narrativa. As atuações burocráticas e apáticas, tanto do elenco principal quanto dos dublês, resultam em cenas de ação desinteressantes e sem emoção, comprometendo o ritmo e o impacto do filme.

Anthony Mackie retorna como Sam Wilson, desta vez alçado ao papel de protagonista. Como diz o Tio Ben, "Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades". Mackie assume essa responsabilidade, mas não corresponde à altura. Em minha crítica do filme Capitão América 2: O Soldado Invernal, de 2014, mencionei que a estreia do ator como o super-herói Falcão foi dispensável, o que só não se repete agora pelo fato de ele ser o protagonista da produção.

Falta entrega em sua performance e, mais uma vez, Mackie não consegue encontrar a química necessária com seus parceiros de elenco, especialmente com Danny Ramirez, intérprete do "novo" Falcão. Para Ramirez, restou o papel quase sempre ingrato de sidekick, cuja principal função é servir como alívio cômico. O texto do filme é tão fraco que nenhuma, nenhuma piada que Ramirez conta tem graça.


Harrison Ford
assumiu o papel que antes era do saudoso William Hurt, Thaddeus "Thunderbolt" Ross. Agora, Ross deixa a farda de lado para assumir uma responsabilidade ainda maior: a presidência dos Estados Unidos da América.

Não sei ao certo o quanto o papel de Ford possa ter sido alterado durante as reescritas de roteiro, especialmente pelo fato de que, na minissérie Invasão Secreta, o presidente americano era outro: um sujeito chamado James Ritson, interpretado por Dermot Patrick Mulroney. Ritson tinha um plano que envolvia a invasão Skrull, o que, convenhamos, renderia um enredo bem mais interessante do que aquele que coube ao presidente Ross. É uma pena que, apesar do silêncio da Marvel Studios sobre o assunto, a minissérie tenha sido "escanteada" e sequer seja mencionada em Capitão América: Admirável Mundo Novo, mesmo que, cronologicamente, tenha relação direta com os eventos ali narrados.

Ford alega que aceitou o papel sem ter lido o roteiro. Um erro imperdoável! O ator acabou se metendo em mais um filme muito ruim, assim como seu último filme no papel de Indiana Jones, lançado em 2023. Não há construção de personagem e Ford, mais uma vez, interpreta a si mesmo.

Giancarlo Esposito, outro ator que não se destaca, é atualmente um dos mais hypados de sua geração. No entanto, como mencionado anteriormente, foi chamado aos 45 minutos do segundo tempo e não tem uma participação muito grande na trama. Na verdade, parece que o vilão Coral foi integrado ao rol de malfeitores sem muito cuidado, servindo apenas como um adereço ao elenco.

Shira Haas e Xosha Roquemore, intérpretes de Ruth Bat-Seraph e Leila Taylor, respectivamente, têm bastante tempo de tela, mas acabaram sendo prejudicadas pelo roteiro preguiçoso ao serem tratadas como coadjuvantes sem muita utilidade na trama em si. Ambas as personagens apenas fazem o serviço que precisam desempenhar, sem maiores reviravoltas narrativas nas quais poderiam ter sido aproveitadas. Haas é a "Viúva-Negra" da vez (sendo nas HQs de origem israelense, mas isso não é mencionado no filme, possivelmente para evitar polêmicas) e manda bem nas cenas de ação, enquanto Roquemore é um possível interesse romântico de Wilson, mas parece que os roteiristas "esqueceram" de desenvolver essa relação.

O único alento que tivemos no elenco foi a presença de Carl Lumbly, que reprisa seu papel como Isaiah Bradley, personagem apresentado na minissérie Falcão e o Soldado Invernal. Lumbly mais uma vez se destaca pela seriedade de sua performance. Gigantesco, robusto e austero, Bradley parece ser o único super-herói "de verdade" do filme, especialmente nas poucas cenas de ação que o próprio ator executou. Naquelas em que a produção lançou mão de dublês, ficava muito nítido que não era o ator que estava em tela. Isso aconteceu também com Anthony Mackie, que trabalhou com um dublê que era bem maior e corpulento que ele.


A edição do filme foi feita por Madeleine Gavin (Nerve – Um Jogo Sem Regras) e Matthew Schmidt (Vingadores: Ultimato), trabalho que merece uma medalha (não um Oscar), apenas pelo fato de ter sido concluído, visto a bagunça que é o roteiro. Costurar os retalhos das "refilmagens" às cenas preguiçosas deve ter sido uma tarefa árdua, apesar de o resultado ter ficado mais aparente do que o ideal.

A trilha sonora foi assinada pela compositora de As Marvels, Laura Karpman, que entrega um trabalho competente, dentro do possível. Já o diretor de fotografia, Kramer Morgenthau, conhecido por Thor: O Mundo Sombrio, Game of Thrones e Creed III, trouxe enquadramentos enfadonhos e nada ousados, demonstrando uma preguiça criativa que compromete a experiência visual.

Nos quesitos técnicos, destaco positivamente o trabalho da equipe de maquiagem, em especial a caracterização do vilão Líder (Tim Blake Nelson) que ficou muito boa, apesar de bem diferente do personagem dos gibis. No entanto, os efeitos visuais são lastimáveis. O CGI é sofrível, em especial o drone conhecido como Red Wing, que parece, em tela, mais falso que uma nota de R$ 3.

Julius Onah, o diretor por trás de Capitão América: Admirável Mundo Novo, parece ter se perdido em meio às complexidades e desafios que o filme apresentou. Onah demonstrou falta de visão e de habilidade para conduzir um filme com o potencial de Capitão América: Admirável Mundo Novo. O resultado é uma produção confusa, com atuações apáticas, decisões criativas questionáveis e falhas técnicas evidentes. O filme fica aquém das expectativas e levanta dúvidas sobre o futuro do MCU.




Marlo George assistiu, escreveu e defende que filmes marcantes são aqueles que não têm medo de abordar temas difíceis e que desafiam as convenções narrativas

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