Nova produção do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), As Marvels finalmente chega aos cinemas após ter tido seu lançamento adiado algumas vezes. Previsto para estrear em novembro de 2022, o longa-metragem foi adiado para fevereiro deste ano, por conta de atrasos nas produções da Marvel Studios e Lucasfilm, estúdios que estão sob o guarda-chuva da Walt Disney Produções, e depois — por causa da greve dos roteiristas —, para 09 de novembro. Melhor seria se o mesmo tivesse sido cancelado.


No início de 2022, Brie Larson, protagonista do filme e intérprete da super-heroína Capitã Marvel, comentou sobre seu primeiro contato com o roteiro de As Marvels: "...quando eu li o roteiro pela primeira vez, eu não pude acreditar no que estava lendo. Eu fiquei tipo 'é de surtar'", disse a atriz.

Na ocasião, ao dizer que o roteiro de As Marvels "era de surtar", Larson se referia à ousadia da Marvel Studios em se reinventar, mostrando sempre coisas que o público não espera em seus filmes. Após assistir o longa-metragem, também posso afirmar que o roteiro é de surtar de tão ruim.

As Marvels começa apresentando a vilã da vez. Zawe Ashton é Dar-Benn, personagem muito parecida com Ronan, o Acusador (vilão de Guardiões da Galáxia), com direito a martelão e tudo mais, que lidera um grupo do povo Kree, alienígenas do folclore da Casa das Ideias. Usando figurino que mais parece um origami, cafona como todas as outras peças criadas pela figurinista Lindsay Pugh (Matrix Resurrections) para o filme, Dar-Benn (nome que pode ter um duplo sentido em português) é interpretada por Ashton de modo caricato, o que evidencia sua escassez de recursos dramáticos. Exagerando em caras e bocas e trejeitos, fica bem claro que trata-se de uma atriz canastrona.

O longa prossegue com uma animação divertida que representa os desenhos que Kamala Khan (Iman Vellani) está fazendo para uma história em quadrinhos. Uma fanfic que traz uma aventuras dela mesma com sua grande heroína, a Capitã Marvel. Esta cena que introduz Kamala nos remete à série solo da personagem que está disponível na Disney+, um dos poucos acertos do filme. Vellani defende o manto de sua personagem com a mesma eficiência e carisma que vimos no enlatado do streaming. A atriz nasceu para viver a Ms. Marvel e foi um alento revê-la em meio ao caos que é o roteiro.

Depois nos reencontramos com velhos conhecidos: Carol Danvers (Larson), Monica Rambeau (Teyonah Parris) e Nick Fury (Samuel L. Jackson). Danvers está em sua nave patrulhando seu quadrante, enquanto Rambeau está trabalhando com o grupo militar confidencial S.A.B.E.R. (iria dizer o que significa, mas é confidencial), em outra parte da galáxia, reparando uma geringonça espacial. Tudo numa boa, até que Fury contata as duas supers para que investiguem fenômenos estranhos e similares que surgiram próximos aos setores em que ambas estavam. Ambas, tocam de forma inadvertida na fenda cósmica que encontram, ao mesmo tempo e, assim que encostam nela, trocam mirabolantemente de lugar, instantaneamente. E não somente Danvers e Rambeau que são afetadas pela reação da fenda cósmica: Khan, que brincava com seu bracelete superpoderoso, também entra na "dança das cadeiras" espacial. Danvers acaba voltando para a Terra, indo parar no quarto de Kamala, Rambeau aparece repentinamente no quadrante espacial patrulhado por Danvers, e Khan encontra Fury na estação espacial da S.A.B.E.R.

Deste modo, temos todas as peças no tabuleiro e avançar além deste ponto na história do filme seria entregar spoilers.


Brie Larson reprisa seu papel como Carol Danvers. A atriz melhorou bastante sua performance como a super-heroína da Marvel desde o primeiro filme solo da personagem, de 2019. No primeiro filme achei que a escalação da atriz foi um erro, porque ela passava um certo desconforto interpretá-la. Desta vez, Larson está bem no papel, mais descontraída e simpática. Ela até funciona no papel.

Conhecida como Fóton nos quadrinhos, Monica Rambeau está na história mais por sua ligação com o universo da Capitã Marvel, do que por ter qualquer tipo de serventia à trama. Após ser usada nas cenas de ação do primeiro ato, a personagem serve apenas como coadjuvante de luxo, só participando mais ativamente da história no final do filme. Em diversos momentos ela serve como escada para gracejos de Khan que são explorados à exaustão.

Porém, o grande problema de As Marvels é Nick Fury. Personagem recorrente nos filmes do MCU desde a primeira produção da franquia, Homem de Ferro, de 2008, Fury é uma personagem importante, cuja história pessoal já foi bastante aprofundada. Quem assistiu a série Invasão Secreta, lançada este ano na Disney+, testemunhou as agruras pelas quais a personagem passou e,  apesar de ter tido um pequeno alento ao final da atração, o fardo que lhe foi conferido era pesado o suficiente para fazê-lo perder totalmente a preocupação de raspar a careca diariamente.

Ocorre que, Fury, aparece no filme como se nada tivesse acontecido, como se tivesse passado uma borracha em tudo que passou recentemente, tocando a vida de agente secreto sem demonstrar qualquer sequela emocional. Também desrespeitoso com a personagem é a forma automática com a qual Jackson está interpretando-o.

Eu estava em dúvida se As Marvels era mesmo o pior filme da Marvel Studios. Temos concorrentes fortes como Vingadores: Era de Ultron, Eternos e Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Mas o tratamento dispensado pelos roteiristas e pelo ator ao Nick Fury foi o fiel na balança. Sem a menor sombra de dúvidas, o pior filme da Marvel. Indefensável.

O trabalho feito pela equipe de efeitos visuais é bem ruim e pode ser reflexo do modo como os contratos com os estúdios de FX são feitos, o que em certa medida explica, mas que não serve como desculpa.

Um dos destaques do filme é sua música. A trilha sonora é de Laura Karpman, e traz temas interessantes e musicas incidentais que ajudam no clima e no ritmo das cenas de ações. As músicas originais compostas para o núcleo do planeta musical são legais, mas estão deslocadas no longa-metragem da Marvel Studios.

A fotografia do filme, dirigida por Sean Bobbitt,  é bastante televisiva, assim como o trabalho de direção de arte e desenho de produção. O produto final parece com um episódio gigante de qualquer série do canal gringo The CW baseada no Universo DC, de Greg Berlanti. Pobre demais para as telonas.

Ao final do filme temos uma cena totalmente deslocada. Os editores Catrin Hedström e Evan Schiff decidiram trazer para a duração do filme em si uma das cenas pós-crédito, o que deixou a conclusão do filme ainda mais bizarra, escancarando a forma irresponsável como este filme foi picotado, remendado e porcamente apresentado ao público, após refilmagens e mudanças ocorridas após o filme desagradar o público em exibições testes que foram feitas nos EUA.

Em julho de 2021, a diretora Nia DaCosta concedeu entrevista ao site Entertainment Weekly e falou um pouco sobre essa experiência de dirigir um filme com orçamento recheado. A diretora, que vem do circuito independente, comentou que "É muito menos traumatizante de trabalhar com certeza. Mas este filme  [As Marvels] lida com coisas específicas, pessoais, às vezes tristes... [Tenho] mais [liberdade] do que já tive fazendo qualquer outra coisa.”

O filme entregue por DaCosta parece qualquer coisa, menos um trabalho feito com total liberdade criativa. Sei que tais entrevistas são protocolares e nem sempre representam aquilo que realmente aconteceu nos bastidores da produção. Mas não posso deixar de responsabilizá-la por esta tragédia chamada As Marvels, um filme dispensável, que não acrescenta nada ao MCU e que não serve sequer como entretenimento matutino em dia chuvoso.



Marlo George assistiu, escreveu e achou incrível assistir um filme tão ruim e com tantas referências Trekkers

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