Indicado ao prêmio de Melhor Roteiro Original no Oscar 2025, dirigido por Tim Fehlbaum, estrelado por Peter Sarsgaard, John Magaro, Ben Chaplin, Leonie Benesch e grande elenco (mesmo!), o filme "Setembro 5" é um pequeno achado nessa temporada de premiações, com uma conhecida velha história mas contada sob um ponto de vista inédito.
"Rumores falam em guerrilha / Foto no jornal / Cadeia nacional, uou!", cantava o ex-crítico musical Paulo Ricardo Oliveira Nery de Medeiros, que, desde 1985, atende somente por seu pré-nome composto como pseudônimo em sua banda de rock RPM. Embora a canção fale de diversos assuntos, consegue resumir a efervescência que era viver numa época "pré-tudo". E assistir o filme "Setembro 5" é uma experiência revigorante que mostra como o bom e velho jornalismo era e porque deixou de ser relevante nos dias de hoje.
Na trama - livremente baseada numa história real -, durante as Olimpíadas de Munique realizada em 1972, uma equipe de transmissão esportiva americana se vê obrigada a cobrir a crise de reféns envolvendo atletas israelenses.
Essa história já foi contada em documentários e no filme "Munique" - dirigido por Steven Spielberg, de 2005. Mas o diferencial de "Setembro 5" é que seu roteiro é superlativo, assim como sua realização e atuação do afiado elenco. E quando fala-se sobre o roteiro escrito por Moritz Binder, (da longeva série germânica "Tatort"), do estreante Alex David e pelo próprio diretor - que está concorrendo a uma única indicação ao Oscar -, trata-se da precisão de detalhes com que aquela equipe de transmissão teve de realizar toda uma coleta de dados de forma urgente para mudar a cobertura jornalística original, pois era para ser sobre esporte e virou o primeiro caso de terrorismo transmitido em tempo real pelas redes de televisão no mundo... O entusiasmo do filme traz evidentes comparações com "Argo", dirigido por Ben Affleck e igualmente baseado em fatos.
E não são apenas detalhes estéticos de reconstituição de época - embora o design de produção de Julian R. Wagner (de "Titã") e o figurino de Leonie Zykan (de "Um Inferno", também dirigido por Fehlbaum) fazem a audiência mergulhar numa verdadeira viagem no tempo em direção aos anos 1970 - mas sim todo o jargão utilizado, o tipo de companheirismo "bruto" bem próprio de equipes de produção de transmissões audiovisuais, em que até impropérios e ofensas são proferidos com frequência mas nada é necessariamente pessoal.
Nesse sentido, algumas cenas chamam a atenção como a "negociação" para que a rede vizinha CBS ceda um horário agendado no satélite em prol da transmissão da ABC, por conta do atentado terrorista, com a barganha e a conhecida frase "a ABC deve uma à CBS" - e, se "deve", terá de retribuir - ou o momento em que a equipe, num lampejo, percebe que sua transmissão pode estar interferindo na mal-sucedida e atrapalhada investida da polícia alemã ou ainda em algo simples como a forma arcaica com que os profissionais realizam o efeito de "câmera lenta" (essa parte é de arrepiar!).
Mas as partes mais interessantes, do ponto de vista de quem vive o jornalismo raiz, tratam justamente sobre a tão importante checagem de fatos. Em dado momento, logo no início da trama, algum personagem diz que não se divulga notícia sem, pelo menos, duas fontes oficiais. E, como qualquer "arma de Tchekhov", a audiência percebe, em outro momento, já próximo do término, o que acontece quando esse padrão de checagem não é respeitada.
(em tempos de disputa ferrenha na atual temporada de premiações, "Setembro 5" seria o candidato perfeito para levar o prêmio de Melhor Roteiro Original - mas concorrer com o peso pesado "A Substância" ou o queridinho e enfadonho "A Verdadeira Dor" será um verdadeiro "Davi versus Golias")
Embora todo o elenco esteja soberbo, o destaque é mesmo do quadrilátero principal - mas isso não quer dizer que não haja momentos de visibilidade do maior ou menor coadjuvante. John Magaro (de "A Grande Aposta") vive Geoffrey Mason, produtor iniciante que vira chefe de transmissão do evento olímpico e acaba ficando no comando do que vem em seguida, com todos os ônus e bônus da situação - sua performance alia indecisão, um certo desespero controlado e um toque de preocupação bem palpável.
Já Peter Sarsgaard (da recente série "Acima de Qualquer Suspeita") interpreta Roone Arledge, que não acredita muito na capacidade de Geoff mas tem que embarcar na loucura por conta da importância dos acontecimentos. Ben Chaplin (da cancelada série "The Nevers") dá vida ao irritadiço e explosivo Marvin Bader, produtor executivo que precisa garantir que a transmissão tenha êxito, mesmo que, para isso, precise GRITAR com oficiais armados da polícia alemã - sua entrega é tamanha que não vemos mais o ator, até em cenas em que odeia-se o personagem por conta de sua conduta, ainda torce-se para que seja bem sucedido em prol do todo.
A direção de fotografia de Markus Förderer (de "Alerta Vermelho" - e que já havia trabalhado com o diretor em "Refúgio") transmite adequadamente a ambiência setentista, com cortes rápidos porém precisos, aliados à esperta edição de Hansjörg Weißbrich (de "Ela Disse"), trazendo um ritmo ágil à produção.
Em tempos de termos que beiram a criminalidade como "narrativa", "pós-verdade" e "fake news", "Setembro 5" não é somente um impecável filme mais do que necessário (e que deveria ter sido lembrado ao menos nas categorias de Melhor Filme - bastava tirar da lista bombas como "Emilia Pérez" e "Duna - Parte Dois" - e Melhor Diretor - defenestrando aquele arrogante francês daquela indigna indicação). É obrigatório. Assista urgente - antes que saia de cartaz!
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