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CRÍTICA [CINEMA] | "Thunderbolts*", por Kal J. Moon

Dirigido por Jake Schreirer, estrelado por Florence Pugh,  Lewis Pullman, Wyatt Russell, Sebastian Stan, David Harbour, Hannah John-Kamen, Julia Louis-Dreyfus, Geraldine Viswanathan e Olga Kurylenko, o filme "Thunderbolts*" é mais um exemplo de que a Marvel Studios até tenta falar sério de vez em quando - mas não por muito tempo pois não sabe como fazer isso...


Clube dos... Seis?!
Lembra quando no seriado "Smallville" acontecia uma grande reviravolta ao final de uma temporada para "desacontecer" logo no início da temporada seguinte? Lembra quando a imensa legião de fãs do seriado "Lost" cogitou que todos os habitantes da ilha haviam morrido no acidente de avião que os deixaram náufragos mas os criadores da série desmentiram - só para entregar praticamente isso no episódio final? Pois o filme "Thunderbolts*" é um grande "desacontecimento" de pouco mais de duas horas de duração...

Na trama, por conta das consequências da destruição causada pelo Hulk Vermelho (em "Capitão América - Admirável Mundo Novo"), Valentina Allegro de Fontaine está sendo alvo de um processo de impeachment de seu cargo junto ao governo. O (agora deputado) Bucky "Soldado Invernal" Barnes precisa de provas para incriminar Valentina e precisa investigar por conta própria, o que pode custar seu mandato. Enquanto isso, após uma grande armadilha provocada pela própria Valentina para assassinar Yelena, Fantasma, Agente Americano e Treinadora, surge uma ameaça muito mais perigosa: o misterioso Sentinela. Para detê-lo, terão que contar com a ajuda do Guardião Vermelho e do inofensivo... Bob.


Seguindo de perto tramas de filmes como "Eternos" e "Guardiões da Galáxia Vol. 3", "Thunderbolts*" tenta falar sobre heróis e heroínas em depressão, além de questionarem seus papeis e motivações para continuar a fazer o que fazem. Porém, pendendo mais para o resultado do primeiro exemplo do que do segundo. Principalmente porque, apesar da válida tentativa de falar sério sobre um assunto bem delicado, o resultado é algo difícil de defender.

O roteiro de autoria de Joanna Calo (da série "O Urso") e Eric Pearson (de questionáveis filmes Marvel como "Thor - Ragnarok" e "Viúva Negra") traz situações que complicam de propósito a vida de seus protagonistas para, logo em seguida, descomplicar - sabe aquele mestre de RPG que cria uma situação adversa na aventura para que os personagens percam alguns pontos ao longo da jornada somente para que, quando enfrentarem o chefe final, estejam com menos "energia" e a luta seja "épica" apenas porque cada decisão tomada será definitiva? É por aí...


Por mais que Sebastian Stan tenha comparado sua participação como a do personagem do clássico "Um Estranho no Ninho" - e o filme tente se vender como uma aventura disruptiva á la A24 -, a trama apresentada traz, de fato, elementos de filmes como "O Exterminador do Futuro 2", "Missão: Impossível 2", "Hellboy", "Brightburn", "Beau Tem Medo" (é sério!), "Clube dos Cinco" e até uma pitadinha de "Corpo Fechado". Só que sem ser referências mas se valendo do velho esquema "copia mas não faz igual".

E também não consegue lidar com consequências do filme "Capitão América - Admirável Mundo Novo", pois nem se dá ao trabalho de dizer quem é o atual presidente dos Estados Unidos e qual sua posição perante o que ocorreu recentemente no cenário político estabelecido pela própria trama. O escopo é menor, sem levar em conta o que a população acha ou a imprensa ou, ainda o mundo diante do problema exposto globalmente. Sem contar que nem mesmo a tal novidade que ocorre no final do enredo (e que explica o que diabos significa o asterisco do título do filme - sim, é exatamente o que todo mundo deduziu nos últimos meses) dura até a segunda cena pós créditos, "desacontecendo" o que havia sido determinado menos de dez minutos antes...


Dentre o numeroso elenco, destaca-se Florence Pugh (que reprisa a personagem que apareceu antes no já citado filme "Viúva Negra" e na série "Gavião Arqueiro"). Com mais tempo de tela que os demais - e mais a fazer do que a maioria -, a atriz assume o papel de protagonista pois a narrativa é vista por seu ponto de vista. O tom depressivo da trama se vale dos problemas enfrentados no passado pela personagem, que, nessa aventura, passa por uma verdadeira "terapia de choque" para encontrar seu papel na vida. O problema é que, apesar de haver uma boa intenção e esforço da atriz, o texto que lhe deram não ajuda - embora existam momentos que poderiam funcionar em prol da dramaturgia.

(para os roteiristas, depressão se cura com uma conversa entre amigos, alguns socos e pontapés, choro e gritos para, ao fim do dia, estar tudo bem - mas seres humanos que já passaram por um problema sério e delicado como esse sabe que não é bem assim que funciona, o que só torna esse texto um tremendo desserviço e despropósito)


David Harbour (também reprisando seu personagem de "Viúva Negra"), claro, é o inevitável alívio cômico - porém, com apenas uma piada realmente engraçada. Lewis Pullman (de "Top Gun - Maverick") e seu personagem emo Bob é funcional, mas ficou risível com sua fantasia de Sentinela (este escriba gargalhou por uns cinco minutos seguidos quando vislumbrou o uniforme), agindo como um vilão que parece saído da cabeça de algum roteirista iniciante (o que não é o caso) - porém, como Bob, tem pelo menos um bom momento, trazendo, novamente, a parte da questão da depressão.

Hannah John-Kamen (de "Homem-Formiga e a Vespa") e Olga Kurylenko (também de "Viúva Negra"), infelizmente, tem pouco tempo de tela, servindo mais como agentes nas cenas de ação e uma ou outra fala de efeito - esta última, participa bem menos que o restante do elenco (e a maioria das cenas em que ela aparece nos trailers divulgados são falsas pois não estão no filme - assim como algumas divulgações de elenco também não aconteceram e outra sofreu substituição). 


Wyatt Russell
 (que reprisa seu personagem de "Falcão e o Soldado Invernal") também está funcional mas, tirando as corretas cenas de ação, seu personagem não disse a que veio. E o indicado ao Oscar Sebastian Stan (de "O Aprendiz") faz o que pode, tenta fazer graça em alguns momentos mas, fora das cenas de ação, é apenas mais um ator em cena com texto ruim a ser declamado.

Julia Louis-Dreyfus ainda parece interpretar a personagem de "Seinfeld" (aliás, quando foi que a atriz deixou de interpretar essa personagem?) e não entrega a tal persona manipuladora que o roteiro pede - e olhe que há uma dicotomia na trama em que ela precisa parecer algo para quem não sabe o que realmente está acontecendo nos bastidores. E Geraldine Viswanathan (do filme "Casamentos Cruzados") é apenas um instrumento ambulante de exposição, falando coisas óbvias que já estão aparecendo em tela.


Tudo isso culpa não somente do roteiro burocrático e claudicante da dupla Calo & Pearson mas principalmente da direção frouxa de Jake Schreirer (da recente série "Skeleton Crew"). Schreirer não consegue extrair humor de situações promissoras para tal, não guia seu elenco adequadamente para alcançar aquele momento dramático que a trama necessita e, também, não imprime a personalidade que um filme desses precisava para se destacar dos demais exemplares cinematográficos da Casa das Ideias. Além disso, a trilha sonora composta por Son Lux (indicado ao Oscar por seu trabalho em "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo") é correta e funcional mas não se destaca, soando bem genérica.

"Thunderbolts*" é aquele filme que não estava nos planos, que ninguém pediu, que não cumpre bem nem mesmo o papel de entretenimento descompromissado e que vai de nada para lugar nenhum. Nem mesmo as duas cenas pós créditos empolgam ou trazem alguma novidade. Para que serve esse filme, afinal? Assista (ou não) e tire suas próprias conclusões...




Kal J. Moon raspa a cabeça, usa barba e luta contra travesseiros do mal...


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